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Artigo - Globalização, futebol e competitividade - Copa do Mundo do Catar

 

 

"Quando o Mundial começou, pendurei na porta da minha casa um cartaz que dizia: Fechado por motivo de futebol. Quando o retirei, um mês depois, eu já havia jogado 64 jogos, de cerveja na mão, sem me mover da minha poltrona preferida."

Eduardo Galeano

 

A globalização, uma das características mais marcantes do mundo contemporâneo, pode ser percebida diariamente nos mais variados campos de atividade. Frequentemente nos defrontamos com referências a aspectos econômicos da globalização, envolvendo questões comerciais, financeiras e das relações internacionais em geral. O fenômeno, no entanto, é muito mais amplo e perpassa por atividades tão díspares como saúde, educação, comunicações, cultura, turismo, lazer, ciência, tecnologia e esporte.

 

Neste último setor de atividade, a globalização pode ser percebida de diversas formas: pelo interesse despertado por modalidades não praticadas até então em determinados países, atestada por elevadíssimos níveis de audiência às transmissões televisivas; pelos polpudos investimentos em patrocínios quer de eventos, quer de instituições ou clubes; pelo intercâmbio cada vez maior de atletas e técnicos, com significativas transferências de recursos financeiros entre países e continentes.

 

Há, também, lamentavelmente, o lado obscuro da globalização no esporte, representado, entre outras coisas, por ações de lavagem de dinheiro, por seguidos casos de corrupção de dirigentes e pela busca de resultados a qualquer custo, por meio de sofisticadas formas de doping.

 

Como não poderia deixar de ser, o futebol, como modalidade mais praticada no mundo, exerce uma atração especial, o que é evidenciado pelo enorme interesse despertado por sua principal competição, a Copa do Mundo, cuja vigésima segunda edição, a ser realizada no Catar, terá início dia 20 de novembro.

 

Em suas edições anteriores, embora tenham participado seleções de 80 países, apenas oito conseguiram conquistar o almejado título: Brasil (5 vezes), Alemanha e Itália (4 vezes), Argentina, França e Uruguai (duas vezes), Espanha e Inglaterra (uma vez).

 

Disputada pela sétima e última vez por 32 seleções (a próxima edição terá 48 seleções), a Copa do Catar terá algumas características especiais, a começar pela época em que será realizada por causa das altíssimas temperaturas verificadas nos meses de junho e julho, quando ocorre normalmente a competição.

 

Além de ser disputada pela primeira vez no Oriente Médio, será também a primeira vez na história em que um Mundial terá jogos em estádios próximos uns dos outros, uma vez que a distância máxima separando um estádio do outro é de duas horas, o que permite que os torcedores que forem ao Catar tenham chance de assistir a um número maior de partidas em comparação com outras edições.

 

Outro fator que tem despertado a atenção de torcedores e especialistas diz respeito à competitividade. Como é natural em competições dessa natureza, há algumas seleções favoritas, outras consideradas como segundas forças, outras ainda que "podem surpreender", e outras que não tem nenhuma chance, para as quais chegar à fase final da Copa já significou muito.

 

Para muitos analistas, a globalização está alterando essa situação, não apenas pela maior quantidade de partidas entre clubes e seleções de diferentes regiões, mas, sobretudo pelo intenso intercâmbio de jogadores, evidenciado pelo fato de que equipes de praticamente todos os países contem em seus elencos com diversos estrangeiros. Tal fator tem permitido que seleções de menor expressão historicamente, em especial da África e da Ásia, passem a enfrentar com relativa igualdade as poderosas seleções europeias e sul-americanas. Até agora, embora ofereçam maior resistência, as seleções desses países não conseguiram chegar à final de uma Copa do Mundo[2]. Ocorrerá no Catar?

 

Por fim, há grande expectativa quanto ao desempenho de grandes estrelas do futebol mundial, algumas das quais terão a última possibilidade de conquistar um Mundial, casos do argentino Lionel Messi e do português Cristiano Ronaldo (Neymar, pela idade, ainda poderá participar de pelo menos mais uma edição da Copa do Mundo).

 

Já pelo lado das decepções, a Copa do Catar não contará com a participação da tradicionalíssima seleção italiana, a Squadra Azzurra, nem de brilhantes estrelas do futebol da atualidade como o egípcio Salah e o norueguês Haaland, cujas seleções não se classificaram, e outras que se lesionaram e desfalcarão suas seleções, como é o caso dos franceses Kanté e Pogba, integrantes da seleção que conquistou o Mundial de 2018.

 

Está na hora dos brasileiros virarem a chavinha, deixando de lado a extrema polarização que cercou as eleições para a Presidência da República e unindo-se numa enorme corrente na torcida pelo inédito hexacampeonato.

 

 

Referências

 

FOER, Franklin. Como o futebol explica o mundo: um olhar inesperado sobre a globalização. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

 

GALEANO, Eduardo; ASEFF, Marlova. Fechado por motivo de futebol. Tradução de Eric Nepomuceno, Sergio Faraco e Ernani Ssó. Porto Alegre: L&PM, 2018.

 

UBERREICH, Thiago. Biografia das Copas. São Paulo: Onze Cultural, 2018.



Luiz Alberto Machado -  Economista, graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Mackenzie, mestre em Criatividade e Inovação pela Universidade Fernando Pessoa (Portugal), é sócio-diretor da empresa SAM - Souza Aranha Machado Consultoria e Produções Artísticas. Foi presidente do Corecon-SP e do Cofecon.

[2] Nos Jogos Olímpicos, em que há restrições para a convocação de jogadores e não há obrigatoriedade para que os clubes cedam seus jogadores para as seleções nacionais, o equilíbrio é maior e os resultados são mais imprevisíveis. Por conta disso, a medalha de ouro foi conquistada pela Nigéria, em 1996, e por Camarões, em 2000.

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