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Taxa Selic: quem ganha e quem perde nos períodos de alta dos juros?


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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Por Samuel de Jesus Monteiro de Barros*

Em menos de dois anos, o Banco Central (Bacen) elevou a taxa Selic em quase 12%, saindo da mínima histórica de 2% ao ano (a.a.) para os atuais 13,75% a.a. Tal medida, considerada por muitos como acertada, já vem apresentando alguns bons sinais na economia – lembrando que o principal objetivo da elevação da Selic é conter a inflação.

Mesmo com estes sinais positivos no horizonte, a crença geral é que ainda deve haver mais um ajuste para cima, fechando o ciclo de alta da Selic próximo aos 14% a.a. Mas, afinal, se os bons ventos estão despontando no horizonte, por que os juros podem subir um pouco mais? 

A resposta está no pacote adotado pelo governo – por meio do aumento dos gastos sociais para o fim do ano –, que pode jogar um pouco de gasolina na fogueira da inflação, com potenciais altas de preços, seguindo o que vem acontecendo no mundo. Para evitar que isso ocorra, cabe ao Bacen ser ainda mais agressivo na política monetária, com um provável aumento na taxa básica.

É claro que outros fatores têm contribuído para a queda da inflação, dentre os quais podemos destacar a redução no preço dos combustíveis, porém, é inegável o forte efeito provocado pelo aumento da Selic nos últimos períodos.

O Brasil, de toda forma, aprendeu como controlar a inflação com taxa de juros, ainda que seja um remédio amargo para a própria economia. Assim, diante de um cenário de alta mesmo com um horizonte mais calmo, quem ganha e quem perde com isso?

Em relação a ganhos e perdas, temos de observar diversos pontos. Vamos começar pelos mais claros. Em março de 2021, a Bolsa de Valores nacional fechava o mês em, aproximadamente, 120 mil pontos. Hoje, a Bolsa está circulando na casa dos 105 mil pontos, ou seja, uma perda de cerca de 12%. 

Como sabemos que dinheiro não some, esse capital saiu da renda variável e foi procurar oportunidades mais seguras. Outro ponto é a perda de valor observada em criptoativos. No caso do Bitcoin, é observada uma perda aproximada de 60% do valor – e, sendo um ativo de investimento especulativo, em momentos de incerteza é natural que haja destruição de valor. Com isso, os recursos, que saíram das rendas variáveis, foram para algum lugar mais resguardado. 

Sendo assim, o investidor observa tradicionalmente a renda fixa como oportunidade quando a Selic é elevada. Segundo relatório da B3, no período de abril de 2021 até março de 2022, o valor em custódia nos produtos de renda fixa cresceu quase 40%, sendo o Tesouro Direto responsável por 28% do valor. Se separarmos apenas o primeiro semestre de 2022, o crescimento foi de 25%, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) –, ao passo que o volume monetário da renda fixa superou R$ 200 bilhões.  

Em contrapartida, os lançamentos de IPOs (abertura de capital) e follow-on (emissões de novas ações) passam por maus momentos. Empresas que precisariam de recursos oriundos das captações de renda variável estão tendo de se reinventar ou criar soluções para velhos problemas, tais como capital de giro.

A baixa atratividade dos produtos de renda variável também pode provocar dificuldades para empresas que desejem ir às compras. Por outro lado, as adversidades fazem com que os negócios fiquem mais baratos, permitindo que outros, mais capitalizados, possam comprar gastando menos. 

O cenário futuro para os rentistas ainda é muito bom, visto que, segundo a percepção dos analistas de mercado, apenas para o fim de 2023 deve haver redução em torno de 3% na Selic. Este panorama faz com que a renda variável sofra, e a renda fixa ganhe espaço. No entanto, como nada é tão cartesiano assim, antes de apontar qualquer previsão, o que nos cabe é esperar e ver como os mercados vão se comportar, como a economia (nacional e mundial) vai reagir e qual será o resultado do próximo pleito eleitoral.

*Samuel de Jesus Monteiro de Barros é pró-reitor de pós-graduação do Ibmec, doutor e mestre em Administração, especialista em Finanças e professor de Avaliação de Investimentos.

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