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Ipea analisa impacto da guerra entre Rússia e Ucrânia na economia mundial e brasileira

Conflito afeta principalmente exportações de petróleo, trigo, milho, óleo de girassol e fertilizantes

Com o objetivo de discutir alguns desdobramentos iniciais do conflito entre Rússia e Ucrânia, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou nesta terça-feira (15/03) uma nota sobre os efeitos da guerra no comércio exterior global e os possíveis impactos para a economia brasileira. A nota busca identificar os principais produtos comercializados internacionalmente pela Rússia e Ucrânia e avaliar de que forma o mundo e o Brasil podem ser afetados.

Os principais produtos exportados pela Rússia somaram US$1,1 trilhão entre 2016 e 2020, com destaque para o petróleo bruto e derivados e combustíveis fósseis (gás natural, carvão), que correspondem a 56,9% do total exportado pelo país e 11% das exportações mundiais desse produto. Além dos combustíveis, destacam-se o alumínio, com 2,1% das exportações, e o trigo, com 2% das exportações russas e 16% das exportações mundiais.

Já a Ucrânia conta com uma menor participação nas exportações mundiais, totalizando US$100,1 bilhões exportados, sendo que 23,9% das vendas externas ucranianas são compostas por óleo de girassol, milho e trigo, seguida pelo minério de ferro (7%). No comércio exterior, as vendas de óleo de girassol, milho e trigo correspondem a 19%, 4% e 3% das exportações mundiais, respectivamente.

Entre os pontos que mais geram preocupação em nível mundial são o aumento generalizado do preço barril de petróleo, pressionando uma inflação mundial do produto, que já está bastante elevada. Já o aumento do preço dos grãos pode ter efeitos sobre a segurança alimentar, principalmente no caso da proteína animal, em função do comportamento do milho no mercado internacional.

Efeitos para a economia brasileira

Rússia e Bielorrússia respondem por 30,5% das exportações de fertilizantes potássicos e o Brasil é o maior importador mundial não apenas do total de fertilizantes como de cada um deles (nitrogenados, fosfatados e potássicos), seguido por EUA, Índia e China. Mais da metade dos produtos russos adquiridos pelo Brasil são fertilizantes potássicos, nitrogenados e compostos, que correspondem a 22,9%, 17,5% e 16,5% do total, respectivamente. Portanto, o Brasil enfrentaria dificuldades para substituir a oferta daqueles dois países por outros fornecedores, dado o seu peso na balança comercial entre os países.

De acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), os estoques disponíveis em março deste ano devem durar até junho. Certamente, não será fácil para o Brasil substituir os fornecedores a tempo do plantio que se iniciará no segundo semestre, dado o peso do país nas importações totais desse produto e a forte dependência de Rússia e Bielorrússia. Isso pode não apenas afetar preços como reduzir significativamente a safra 2022/2023 em alguns produtos, tanto pela redução da área plantada como da produtividade.

Outro desdobramento do conflito que pode afetar as importações brasileiras é em relação ao trigo. O Brasil é o quinto maior importador mundial do cereal e, mesmo que não importe da Ucrânia, pode ser indiretamente afetado pela pressão na oferta sobre os países que fornecem a commodity para o Brasil, como a Argentina que é responsável por 76,4% das importações brasileiras.

Já as exportações brasileiras podem ser afetadas, principalmente no mercado de trigo. Ucrânia, Rússia e Brasil são grandes exportadores de milho, o que significa pressão sobre a oferta brasileira em um cenário de interrupção dos envios dos dois países envolvidos na guerra. A safra brasileira de milho de 2021/2022, apesar da quebra da produção no sul do país, deverá ficar quase 30% acima da safra anterior, anormalmente baixa, e o país pode alcançar o mercado chinês nas importações do cereal.

Apesar de ser grande parceiro da China em diversos produtos agrícolas, o Brasil não exporta milho para a China, enquanto a Ucrânia foi seu maior fornecedor, responsável por 67,72% do abastecimento chinês entre 2016 a 2020. É possível também que o país possa se beneficiar por uma alta dos preços do produto, pela escassez de oferta.

Na iminência da ameaça à segurança alimentar dos países que dependem das exportações da Ucrânia e Rússia, abre-se uma interessante janela de oportunidade aos produtos brasileiros, como alternativa para amenizar a falta de suprimentos. Por outro lado, o aumento da participação brasileira nos mercados internacionais de soja e milho podem representar um problema de abastecimento interno, com pressões inflacionárias sobre os preços dos alimentos, que já apresentam tendência de alta no mercado nacional. Vale lembrar que o preço do milho é decisivo para a formação dos preços de carnes de suínos e frangos.

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