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Economia + Criatividade = Economia Criativa

 

Este é o título do novo livro publicado pelo Espaço Democrático, do qual sou um dos autores, juntamente com o professor Mauricio Andrade de Paula e as professoras Anapaula Iacovino Davila e Sonia Helena Santos.

O que nos motivou a escrever o livro foi a constatação de que existem no mercado excelentes livros tanto de economia, como de criatividade, assim como de economia criativa, quer de autores estrangeiros, quer de brasileiros. Nesse sentido, não teria cabimento escrever mais um livro sobre qualquer desses temas.

Identificamos, porém, a possibilidade de inovar, por meio de uma abordagem integrada dos três temas. Limitamo-nos, para tanto, a aspectos essenciais da economia, da criatividade e da economia criativa, enfatizando seu elevado grau de complementaridade.

O britânico John Howkins, um dos mais respeitados especialistas em economia criativa, chama a atenção para essa complementaridade no seu consagrado livro Economia Criativa: como ganhar dinheiro com ideias criativas (São Paulo: Makron Books, 2013). Nele, deixa clara sua visão de economia criativa baseada na relação entre a criatividade e a economia. Howkins afirma: “A criatividade não é algo novo, tampouco a economia, mas a novidade está na natureza e na extensão da relação entre elas e como elas se combinam para criar valor e riqueza extraordinários”.

 

Howkins observa que

Economia é convencionalmente definida como um sistema para a produção, troca e consumo de bens e serviços. As ciências econômicas geralmente lidam com o problema de como os indivíduos e as sociedades satisfazem suas necessidades (que são infinitas) com os recursos (que são finitos). Trata-se, portanto, basicamente de alocação de recursos escassos. Embora use ambos os termos segundo estes sentidos, mostro que as ideias não são limitadas da mesma forma que os bens tangíveis e a natureza de sua economia é diversa.

 

Por outro lado, prossegue Howkins

Criatividade é a capacidade de gerar algo novo. Significa a produção por parte de uma ou mais pessoas, de ideias e invenções que são pessoais, originais e significativas. Ela é um talento, uma aptidão. Ela ocorrerá toda vez que uma pessoa disser, realizar ou fizer algo novo, seja no sentido de “algo a partir do nada” ou no sentido de dar um novo caráter a algo já existente. A criatividade ocorre independentemente de esse processo levar ou não a algum lugar; ela está presente tanto no pensamento quanto na ação. Ela está presente quando sonhamos com o paraíso, ao projetarmos nosso jardim e quando começamos a plantar. Estamos sendo criativos ao escrever algo, não importa se publicado ou não, ou quando inventamos algo, seja essa invenção usada ou não. Eu uso a palavra criador para descrever qualquer pessoa que cria ou inventa algo novo.

 

Todos nós somos criativos segundo nosso próprio jeito, na forma como nos vemos e nos apresentamos para o mundo. Nossos lampejos de criatividade revelam nossa personalidade. Algumas poucas pessoas vão além e fazem de suas imaginações criativas o ponto central de sua vida profissional, não apenas em termos de sua personalidade, mas também comercialmente, na forma como sobrevivem disso e auferem lucros com isso.

 

Conectando as duas componentes, Howkins afirma

A criatividade não é necessariamente uma atividade econômica, mas poderia se tornar caso produza uma ideia com implicações econômicas ou um produto comerciável. Essa transição de abstrato para prático, de ideia para o produto, é difícil de definir. Não existe nenhuma definição abrangente do momento dessa mudança que preveja todos os casos. As leis sobre propriedade intelectual fornecem um conjunto de critérios e o mercado, outro. Em geral, a mudança ocorre toda vez que uma ideia é identificada, denominada e tornada exequível, e pode vir, como consequência, a se ter sua propriedade e se efetuar a sua comercialização. O resultado é um produto criativo que eu defino como um bem ou serviço econômico resultante da criatividade e que tem um valor econômico.

 

A conclusão de Howkins é que

A economia criativa consiste nas transações contidas nesses produtos criativos. Cada transação pode ter dois valores complementares: o valor da propriedade intelectual intangível e o valor do suporte ou plataforma física (se realmente existir algum). Em alguns setores como software, o valor da propriedade intelectual é mais elevado. Em outros como artes, o custo unitário do objeto físico é maior.

 

É exatamente sobre esta combinação que tratamos no livro ora publicado, evidentemente com uma visão mais aprofundada de cada componente.

 

Duas novidades do livro merecem ser destacadas.

A primeira diz respeito a um relato pessoal de cada autor fundamentado em suas próprias experiências pessoais, o que se constitui numa ponte entre a teoria e a realidade do mundo acadêmico ou corporativo.

A segunda reside num subcapítulo sobre cidades criativas. Nele, após explorarmos conceitos, oportunidades e desafios, convidamos os leitores a uma viagem a dez cidades brasileiras, cujos exemplos podem servir de inspiração para gestores públicos, em especial aos ocupantes de cargos executivos nas esferas municipal e estadual.

Temos absoluta convicção de que o Brasil possui todas as condições para ser protagonista no campo da economia criativa, dispondo de diversidade cultural e de ativos ambientais que lhe conferem considerável vantagem competitiva. Lamentavelmente, por diversas razões, em especial pelo desconhecimento de nossos gestores públicos e pela descontinuidade das políticas públicas, essa vantagem competitiva não foi devidamente explorada, permanecendo a economia criativa como um segmento marginal da nossa economia, quando teria tudo para ser um dos carros-chefes do nosso processo de desenvolvimento.

Fica a esperança de que o livro Economia + Criatividade = Economia Criativa (São Paulo: Scriptum, 2021) contribua para maior reconhecimento da relevância deste segmento.

 


Luiz Alberto Machado - Economista, graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Mackenzie, mestre em Criatividade e Inovação pela Universidade Fernando Pessoa (Portugal), é sócio-diretor da empresa SAM - Souza Aranha Machado Consultoria e Produções Artísticas. Foi presidente do Corecon-SP e do Cofecon.

 

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