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Em três décadas, Brasil avança pouco na redução da desigualdade racial de renda

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) foi feito com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)

A desigualdade racial de renda no Brasil persistiu quase sem avanços no período entre 1986 e 2019, de acordo com estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado nesta sexta-feira (11). Os dados foram calculados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

Em três décadas, a desigualdade racial impulsionou a já elevada disparidade de renda brasileira em pouco mais de um décimo. No que toca à razão entre as rendas médias e à concentração da crescente parcela negra da população entre os mais pobres, a desigualdade racial permaneceu elevadíssima, praticamente intocada. De acordo com o pesquisador e autor do trabalho, Rafael Osório, com boa vontade, pode-se registrar uma pequena redução dessa desigualdade, todavia deve ser vista com alguma suspeição, pois pode, em parte, ter sido artificialmente produzida pelo maior aumento relativo da declaração de cor preta ou parda entre os mais ricos. “A desigualdade racial de renda persiste sem abalos substantivos”, ressalta.

O estudo aponta que a renda média dos brancos permanece ao menos duas vezes maior do que a dos negros. E a concentração dos negros entre os mais pobres é pouco mais do que um terço do que seria em uma sociedade com castas raciais de renda, na qual nenhuma pessoa branca teria renda inferior à de uma pessoa negra. Somente em 2014, quando a renda média dos brancos chegou a 24 dólares por dia, a renda média dos negros ultrapassou o mínimo histórico dos brancos, de 12 dólares em 1992.

Segundo o indicador de desigualdade escolhido, o L de Theil, que confere maior peso à desigualdade representada pela presença de pessoas muito pobres, a desigualdade entre as médias dos grupos responde por pouco mais de 10% da desigualdade brasileira. Em qualquer momento do período em estudo, se negros ou brancos brasileiros vivessem em países separados, ainda seriam excessivamente desiguais.

“A valorização da negritude e as políticas para a população negra, dissociadas do combate às desigualdades socioeconômicas e regionais que afetam a todos, não levarão a grandes reduções da desigualdade racial em poucas décadas”, destaca Osório. No campo das políticas públicas, ressalta, da mesma forma que se avançou na constatação da necessidade de programas e ações de combate ao racismo e à discriminação, é preciso avançar no entendimento de que todas as iniciativas que contribuem para a redução da desigualdade de renda constituem políticas para a população negra e para a superação da desigualdade racial.

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