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Artigo - Economia da desigualdade

“Os valores que conferem ao capitalismo sua legitimidade são prosperidade e liberdade para todos. [...[ Se você concentra poder e renda em um pequeno grupo, o crescimento econômico desacelera, as taxas de inovação desaceleram, a raiva cresce. O que faz uma sociedade mais próspera e rica no longo prazo é trazer todos para dentro da sociedade, dar chances a todos.”

Rebecca Henderson[1]

 

Participando recentemente de um Diálogo no Espaço Democrático (https://espacodemocratico.org.br/noticias/como-desatar-o-no-da-falta-de-trabalho-e-renda/, o Prof. José Márcio Camargo afirmou que trabalhar com foco na desigualdade e na pobreza não é novidade para economistas brasileiros. A novidade é a atenção que tais aspectos vêm merecendo nos últimos tempos de economistas de países desenvolvidos. 

Tal afirmação aguçou minha curiosidade e, pesquisando a respeito, constatei que ele está coberto de razão. Efetivamente, um número expressivo de economistas brasileiros vem se debruçando sobre questões dessa natureza já há algum tempo, destacando-se entre eles, além do próprio José Márcio Camargo, os economistas Ricardo Paes de Barros, Marcelo Nery, Ricardo Henriques e Eduardo Matarazzo Suplicy, incansável defensor do Programa de Renda Mínima. 

Observei também que em outros países não desenvolvidos o tema desperta grande interesse. Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1998 e um dos formuladores do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), e Muhammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2006 e idealizador do Banco do Povo, cujas vidas estão intimamente ligadas à realidade da Índia e de Bangladesh, são exemplos notórios disso.

Relatório recém-publicado pela Academic Influence, sobre os economistas mais influentes de 2011 a 2020 (https://academicinfluence.com/articles/people/most-influential-economists-today), reforça a afirmação do Prof. José Márcio Camargo. Pelo menos seis dos economistas relacionados, a começar pelo festejado Thomas Piketty, autor do best seller O capital no século XXI[2], tem enfatizado questões vinculadas à desigualdade em suas pesquisas e publicações. Além dele, Esther Duflo e seu marido Abhijit Banarjee (do MIT), Gabriel Zucman (da UCLA) e Samuel Bowles (da Universidade de Siena). Na maior parte dos casos, o que tem chamado a atenção destes economistas para a questão da desigualdade é a apropriação de parcela crescente da renda por uma ínfima parcela de bilionários em diversos países. 

Alguns outros economistas mencionados no relatório têm também se voltado para aspectos relacionados à pobreza e/ou à desigualdade, embora estes não fossem historicamente, seus focos principais. É o caso de Paul Krugman, de Princeton, que tem se dedicado à nova geografia econômica, Emmanuel Saez, da UCLA, e Jeffrey Sachs, de Columbia, que escreveu um livro com o título O fim da pobreza[3]

Na conclusão de sua participação no Diálogo no Espaço Democrático, o Prof. José Márcio Camargo defendeu com veemência a tese de que para amenizar a desigualdade é condição sine qua non investir em educação, sobretudo na primeira infância. Sobre esse aspecto, na relação da Academic Influence consta o nome de James Heckman, da Universidade de Chicago e ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 2000 por seus estudos sobre retornos econômicos da educação. Entre nós brasileiros, Eduardo Giannetti tem sempre mencionado a importância do investimento em capital humano, e Heloísa Oliveira, atualmente diretora de Relações Institucionais da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, tem desenvolvido um trabalho muito competente relacionado à relevância da educação infantil.

 

Vale a pena conferir. 



[1] HENDERSON, Rebecca & HUCK, Luciano. ‘O capitalismo precisa de democracia forte e inclusiva para conseguir se sustentar’. O Estado de S. Paulo, 28 de fevereiro de 2021, pp. H 8-9. 

[2] PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Tradução de Monica Baumgarten de Bolle. São Paulo: Intrínseca, 2014.

[3] SACHS, Jeffrey. O fim da pobreza: como acabar com a miséria mundial nos próximos vinte anos. Prefácio de Bono; prefácio à edição brasileira de Rubens Ricupero. Tradução de Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

 

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