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BITCOIN: Criptomoeda ou Pseudomoeda?

Por Newton Marques

Um assunto que está na moda da mídia (e do povo) é o bitcoin. O que é? Para que serve? É uma aplicação financeira? É uma ferramenta importante para as transações comerciais pela internet? E por que é que tem tido uma valorização fantástica e atraído muito incautos que querem enriquecer rapidamente por causa da sua rentabilidade que atingiu quase 800% em um ano?

O bitcoin é uma moeda virtual com alegada proteção por criptografia, conhecida como criptomoeda, mas que vem sofrendo várias críticas por não possuir essa característica, mas tão-somente função auxiliar, e que a maior inovação é o uso de “blockchains”. Recentemente, foi desqualificada por Gustavo Loyola (artigo do Valor Econômico, em 5/2/18, chamando-a de pseudomoeda.

O bitcoin foi criado por uma equipe de especialistas em TI liderada por Satoshi Nakamoto, em 2009. Caracteriza-se por auxiliar nas transações da internet feitas de uma pessoa para outra sem precisar de intermediários. É conhecida nesse mercado como rede P2P. Tem um QR Code com 34 caracteres. Os seus usuários têm que ter uma carteira virtual que pode ser criada gratuitamente na Internet, após exigências cadastrais. Podem ser adquiridas por meio da própria moeda de cunho forçado (real); por meio da venda de bens e serviços que aceitam bitcoins; ou por meio da mineração de moedas. 

A mineração de moedas caracteriza-se por aqueles agentes que incentivam e catalisam a capacidade de processamento do computador, tanto para fomentar o crescimento dessa rede, como também para mantê-la funcionando, e com isso é recompensado pelo recebimento de bitcoins. É uma espécie de “market-maker”, agente conhecido no mercado financeiro para comprar e vender ativos financeiros dando liquidez aos negócios.

A preocupação dos economistas é saber como esse modismo vai impactar na economia. Por um lado, sem regulamentação pode se transformar em um pesadelo para os agentes do mercado gerando elevados riscos para seus negócios, mesmo para os simpatizantes liberais da auto-regulamentação, como foi o caso dos derivativos financeiros. Por outro, caso venha a ser concorrente da moeda de cunho forçado, os bancos centrais abrem mão do monopólio de emissão monetária com graves consequências sobre as economias.

Com o sucesso obtido pelo bitcoin, surgiram outras moedas similares, tais como: ethereum, ripple, cardano. NEO, litecoin, stellar, EOS, NEM, e TRON. Essas moedas têm negócios (compra e venda) de mais de US$ 30 bilhões diários. O valor de mercado dessas moedas está estimado em US$ 390 bilhões após ter atingido US$ 830 bilhões (Portal do Bitcoin). No Brasil, segundo o site especializado bitValor, os negócios em 2017 com bitcoin ultrapassaram R$ 8 bilhões (20 vezes o que foi negociado em 2016). Segundo sites dessas moedas, existem mais de 1000 moedas e tokens.

Com relação à forte valorização dos bitcoins (mais de 750%, desde 2016), as explicações se resumem a manipulação do mercado por alguns traders, criação de bolsas de futuros, inclusão crescente de países e de interessados, facilidades para compras de bitcoins, uso crescente generalizado para uso dessas moedas virtuais nesse mercado. Enfim, é uma relação de mercado entre oferta e procura. E pelo lado da desvalorização, temos as ações regulatórias das entidades reguladoras dos países desenvolvidos e acompanhamento pelos países emergentes, dificultando esse uso indiscriminado e explosivo principalmente para os incautos que acreditam no ganho fácil desse mercado com a forte valorização.

O interesse dos economistas está relacionado com vantagens e desvantagens do uso dos bitcoins nas economias.

Segundo análises do BIS (Banco de Compensações Internacionais), que coordena a regulamentação prudencial dos sistemas bancários mundiais, esses ativos financeiros que são denominados de moeda, são um risco à estabilidade financeira. Têm grande volatilidade de preços, elevados custos de transação e falta de proteção a consumidores e investidores, com ausência de política regulatória dos bancos centrais. Com isso, os bitcoins se tornam inseguros e inadequados para exercer as funções clássicas da moeda: reserva de valor, unidade de conta e meios de pagamento.

O Diretor Executivo do BIS, Agustin Carstens, vai além. Chamou o bitcoin de bolha e pirâmide financeira. Segundo esse dirigente, os bancos centrais devem agir sobre as empresas (corretoras) que fazem a intermediação entre o dinheiro real e as criptomoedas, evitando assim que se tornem parasitas dentro da infraestrutura do sistema financeiro. Ademais, é prerrogativa dos bancos centrais ter o monopólio da emissão de moedas e se preocupar com formas de pagamento anônimas que podem criar enormes riscos de governança dos sistemas bancários.

Segundo Carstens, as novas tecnologias que dão respaldo às moedas virtuais, guardam grande potencial, como é o caso de se tornar o sistema de pagamentos mais eficiente, mas que não são imprescindíveis para tal mister. O cuidado com essas moedas deve ser grande porque podem ficar mais conectados ao sistema financeiro e se tornar um risco à estabilidade financeira.

Enfim, a crítica mais grave feita por economistas com relação ao uso dessas moedas virtuais, como Nouriel Roubini, é que uma oferta fixa de bitcoins (sem o devido controle dos bancos centrais) descolada da relação com a evolução do PIB nominal, poderia, em situação de “steady-state” (situação ideal de economia estável) provocar uma situação de processo deflacionário, em artigo publicado no site “Project Syndicate”). Os desafios estão lançados para nós, os economistas.

 

           

 

 

 

Por Newton Marques

 

(Economista com mestrado e doutorado em economia pela UFPE, membro do Corecon-DF)

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