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Nobel de Economia 2020: um prêmio em consonância com seu tempo

“A teoria dos leilões é uma das construções mais coletivas da teoria econômica, tendo recebido a contribuição de grande número de pesquisadores de primeiríssimo nível tanto no seu desenvolvimento teórico, como nas suas fantásticas aplicações.”

 

Maurício Bugarin 

No dia 12 de outubro foram conhecidos os nomes dos dois ganhadores do Nobel de Economia, tradicionalmente o último das seis categorias do prêmio [2] a ser anunciado. 

Em realidade, o “Prêmio em Ciências Econômicas em memória de Alfred Nobel” foi criado apenas em 1969[3] pelo Banco Central da Suécia, para celebrar o aniversário de 300 anos da instituição, muitos anos depois, portanto, da premiação iniciada em 1901 pela Fundação Nobel. 

Apesar de ser promovido independentemente pelo Banco Central da Suécia, a premiação segue à risca os processos e critérios dos outros prêmios, que são de responsabilidade da Academia Real de Ciências da Suécia e o(s) ganhador(es) recebem a láurea juntamente com os laureados nas outras cinco categorias em cerimônia realizada no dia 10 de dezembro. 

Uma diferença em relação a outras premiações que ocorrem pelo mundo é que o Nobel revela apenas o nome do vencedor, que não raras vezes recebe a notícia pela imprensa de que ganhou as 10 milhões de coroas suecas, o equivalente a 1,1 milhão de dólares. 

Vale destacar, adicionalmente, que há uma regra no regulamento do Nobel determinando que a lista de indicados seja mantida em sigilo por 50 anos, o que transforma em tarefa quase impossível dar um palpite certeiro de quem será o vencedor, ainda que com base nas últimas edições haja sempre especulações em torno de alguns nomes.  

Os laureados de 2020 foram os professores Robert Wilson, de 83 anos, e seu ex-orientando, Paul Milgrom, de 72 anos, ambos vinculados à Stanford University. O nome de Paul Milgrom, aliás, encontrava-se entre os de economistas que figuravam já há algum tempo na relação de possíveis ganhadores. 

A justificativa do júri da Academia de Ciências da Suécia foi de que os trabalhos de Wilson e Milgrom contribuíram para “melhorar a teoria dos leilões e inventar novos formatos de leilões, beneficiando vendedores, compradores e contribuintes em todo o mundo”. 

A par dessa justificativa do júri, há uma série enorme de argumentos favoráveis à escolha dos laureados, que utilizam em suas pesquisas, além da teoria dos leilões, aspectos relacionados a diversas outras ramificações do pensamento econômico, entre os quais a teoria dos jogos, a teoria da firma, o conceito de equilíbrio sequencial e os modelos de sinalização e reputação. 

Mesmo reconhecendo a relevância de todas essas contribuições, o argumento que mais me sensibiliza na escolha do Nobel de Economia deste ano, num contexto fortemente marcado por fake news, elevados níveis de corrupção e inúmeros exemplos de malversação de recursos, é o de favorecer a lisura e a transparência nos processos de concessão de serviços públicos. 

Diante disso, encerro este artigo reproduzindo o destaque dado a esse aspecto pelo ex-ministro Maílson da Nóbrega, que, em seu livro O futuro chegou: instituições e desenvolvimento no Brasil, publicado em 2005, escreveu: 

 

Observa-se também uma crescente introdução do sistema de mercado em transações com órgãos do governo. A forma mais conhecida é a dos leilões para a concessão de serviços de telecomunicações e energia, que são desenhados de maneira sofisticada, incluindo a utilização de raciocínios estratégicos proporcionados pela teoria dos jogos. Em vez de ser feita por burocratas, com todo o seu potencial de perdas, distorções e corrupção, a concessão acontece de forma impessoal e competitiva. 

Referências bibliográficas e webgráficas 

BUGARIN, Maurício. Teoria dos Leilões e Aplicações: A Teoria dos Jogos volta roubar a cena no Prêmio Nobel de Economia de 2020. Disponível em http://www.brasil-economia-governo.org.br/2020/10/16/teoria-dos-leiloes-e-aplicacoes-a-teoria-dos-jogos-volta-roubar-a-cena-no-premio-nobel-de-economia-de-2020/. 

JUSTO, Gabriel. Quem deve ganhar o Nobel de Economia em 2020? Disponível em https://exame.com/economia/quem-deve-ganhar-o-nobel-de-economia-em-2020/. 

MACHADO, Luiz Alberto. Viagem pela economia. São Paulo: Scriptum, 2019. 

NÓBREGA, Maílson da. O futuro chegou: instituições e desenvolvimento no Brasil. São Paulo: Globo, 2005. 




Luiz Alberto Machado -  Economista, graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Mackenzie, mestre em Criatividade e Inovação pela Universidade Fernando Pessoa (Portugal), é sócio-diretor da empresa SAM - Souza Aranha Machado Consultoria e Produções Artísticas e diretor adjunto do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial. Foi presidente do Corecon-SP e do Cofecon.

[2] As seis categorias são: Química, Física, Medicina, Literatura, da Paz e Economia.

[3] O apêndice do livro Viagem pela economia, publicado pelo Espaço Democrático, apresenta a relação completa dos ganhadores do Nobel de Economia até 2018, com a respectiva justificativa do(s) motivo(s) da premiação.

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