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Artigo - O fim de um ciclo?

A contundente derrota por 8 a 2 para o Bayern Munique nas quartas-de-finais da Champions League significou não apenas a eliminação do Barcelona, mas também, provavelmente, o fim de mais um ciclo extremamente vitorioso do clube catalão. Afinal, além do surpreendente resultado, a derrota pôs fim à péssima temporada de uma equipe acostumada a colecionar títulos, mas que em 2020 perdeu o Campeonato Espanhol para o maior rival, Real Madrid, e ficou fora da Copa do Rei, que será disputada por dois clubes bascos, Real Sociedad e Atlético de Bilbao.

Caso se confirme o fim do ciclo vitorioso do time liderado por Messi, o fato não se constituirá em novidade na história recente do Barcelona.

No excelente livro A bola não entra por acaso, escrito por Ferran Soriano, ex-vice-presidente do Barcelona, o autor relata o episódio ocorrido quando a chapa a que pertencia, composta por executivos bem sucedidos em diversos segmentos, mas sem qualquer experiência com o futebol, ganhou as eleições em 2003 e teve que tomar uma importante decisão assim que assumiu a direção do clube. Naquela época, outro ciclo caracterizado por uma sucessão de vitórias e títulos, que em diferentes momentos contou com os brasileiros Romário, Ronaldo Fenômeno e Rivaldo, havia também chegado ao fim. A decisão que se apresentava à diretoria que estava assumindo, numa época em que o futebol como negócio passava por uma mudança radical, consistia em escolher entre fazer do Barcelona mais uma boa equipe, capaz de conquistar eventualmente algum título de relevo, ou mantê-lo entre o seletíssimo grupo dos grandes campeões, do qual faziam parte, na época, o Manchester United e o Liverpool, da Inglaterra, o Real Madrid, da Espanha, o Milan, a Internazionale e a Juventus, da Itália, e o Bayern Munique, da Alemanha. Alguns clubes que estavam recebendo polpudos investimentos aspiravam integrar este restrito círculo, entre os quais o Chelsea e o Manchester City. As outras ligas europeias tinham investimentos muito inferiores aos de Inglaterra, Espanha, Itália e Alemanha e dificilmente poderiam manter equipes em condições de fazer frente às já mencionadas. Portanto, não havia clubes da França, da Holanda ou de outros países europeus nesse fechado círculo, ainda que às vezes tenham produzido clubes campeões como o Ajax da Holanda comandado por Johan Cruyff.

Aliás, o craque holandês faz parte da história vitoriosa do Barcelona, primeiro como jogador, e depois como o técnico responsável por impor um estilo que foi mantido por seus sucessores. Não é por outra razão que Cruyff e Pep Guardiola são considerados os maiores técnicos do clube catalão. 

Retornando, à estratégica decisão da diretoria que assumiu o clube naquela época, a opção foi a de manter o Barcelona no seleto grupo dos maiores campeões, algo previsível considerando que qualquer decisão diferente representaria admitir uma posição de inferioridade perante o Real Madrid, situação inimaginável para quem conhece o grau de rivalidade existente na Espanha. 

Tomada a decisão de manter o Barcelona entre os maiores, era necessário escolher o técnico responsável por formar uma nova geração vencedora. A escolha recaiu sobre outro holandês, Frank Rijkaard (indicado por Cruyff). Ele, por sua vez, exigiu a contratação de Ronaldinho Gaúcho para ser o maestro dentro de campo. O planejamento estratégico então definido incluía aproveitar dali em diante jovens jogadores formados em La Masia, a competente escola de futebol da qual vieram nomes que foram essenciais às conquistas do Barcelona - e da própria seleção espanhola - como Puyol, Messi, Xavi, Iniesta, Piqué e Busquets. Essa geração atingiu o seu auge em 2011, com a conquista da Champions League quando o Barcelona derrotou o Manchester United por 3 a 1, dando um verdadeiro show de bola, em jogo realizado no dia 28 de maio no lendário estádio de Wembley, em Londres. 

O resultado de 3 a 1 não expressou fielmente o que foi o jogo. A superioridade da equipe catalã foi tão grande, assim como o número de oportunidades de gol desperdiçadas, que uma goleada de 6 ou 7 a 1 espelharia melhor o que foi o jogo. Poucos meses depois, ocorreu algo semelhante, desta vez na final do Campeonato Mundial de Clubes, em que a “vítima” foi o Santos, derrotado por implacáveis 4 a 0, depois de outro show de Messi, Iniesta, Xavi, Daniel Alves e companhia. 

Contratações pontuais como as de Luiz Suarez, Neymar e Vidal garantiram a permanência do Barcelona disputando os principais títulos até o presente.

O desafio de agora não é muito diferente do enfrentado pela diretoria da qual fazia parte Ferran Soriano. 

De lá para cá, a Inglaterra firmou-se como o país com o campeonato mais forte da Europa. Ao contrário do que ocorre em outros países, nos quais a disputa pelos títulos é restrita a pouquíssimos concorrentes, o título da Premier League é sistematicamente disputado por diversos clubes como Manchester United, Manchester City, Liverpool, Chelsea, Arsenal e Tottenham, embora surpresas ocorram, como no caso do título do Leicester na temporada 2015-2016. A outra novidade desse período foi a tentativa do Paris Saint Germain de ascender ao seleto grupo dos grandes, graças à contratação de consagrados craques como Thiago Silva, Cavani, Neymar, Di Maria e Mbappe. Depois de muitos anos conquistando com facilidade o Campeonato Francês e a Copa da França, mas fracassando na almejada Champions League, finalmente o PSG chegou à final em 2020, após vencer convincentemente o RB Leipzig da Alemanha na semifinal.

Supondo que o anseio seja manter o Barcelona entre os maiores, resta saber quais as apostas do clube catalão para enfrentar esse desafio, o que passa necessariamente pela escolha do técnico e do(s) jogador(es). Com o anúncio do nome de Ronald Koeman, que atuou como zagueiro pelo clube entre 1989 e 1995, para técnico, fica claro que o Barcelona sonha com a repetição do sucesso obtido no passado com os holandeses Cruyff e Rijkaard. 

Já quanto aos jogadores, quem desempenhará o papel outrora protagonizado por Cruyff, Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Messi? 

Façam suas apostas. 

 

Luiz Alberto Machado - Economista, graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Mackenzie, mestre em Criatividade e Inovação pela Universidade Fernando Pessoa (Portugal), é sócio-diretor da empresa SAM - Souza Aranha Machado Consultoria e Produções Artísticas e diretor adjunto do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial. Foi presidente do Corecon-SP e do Cofecon.

Referência bibliográfica 

SORIANO, Ferran. A bola não entra por acaso: estratégias inovadoras de gestão inspiradas no mundo do futebol. Tradução de Marcelo Barbão. São Paulo: Larousse do Brasil, 2010.

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