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Artigo - Motivos de orgulho

 

Luiz Alberto Machado[1]

Numa época repleta de dificuldades, pessimismo e más notícias como a que estamos vivendo em razão da pandemia de coronavírus e suas consequências sanitárias, econômicas, sociais e psicológicas não é fácil encontrar razões capazes de gerar otimismo, e que, mesmo em quantidade insuficiente para contrabalançar o sentimento geral amplamente negativo, possam pelo menos se constituir em motivos de orgulho.

Nesse sentido, inspirado no documentário Orgulho de ser brasileiro, dirigido pelo jornalista Adalberto Piotto, e nostálgico do excepcional futebol da Seleção Brasileira de 1970 que conquistou o tricampeonato no México, ficando definitivamente com a Taça Jules Rimet [2] , resolvi me ater neste artigo a dois casos brasileiros que são motivo de orgulho e que têm dado uma enorme contribuição para que a situação não seja ainda pior do que já é.

Vou usar como primeiro exemplo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). A rigor, o mérito cabe ao Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária. Enfatizo, porém, a Embrapa por ser a integrante mais conhecida desse sistema.

A partir do Ato de Autorização assinado pelo presidente Médici em 1972, a Embrapa foi criada em 26 de abril de 1973, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Seu desafio era desenvolver um modelo de agricultura e pecuária tropical genuinamente brasileiro, superando as barreiras que limitavam a produção de alimentos, fibras e energia no Brasil.

Menos de cinquenta anos depois, é possível afirmar com absoluta convicção que a Embrapa não apenas conseguiu cumprir seu desafio, mas o fez superando as expectativas mais otimistas, pois foi essencial para a transformação de cerrado numa das regiões mais produtivas do mundo para a produção de grãos e para fazer da agricultura e da pecuária do Brasil referências internacionais, sendo o País líder no ranking mundial de diversos produtos, como se vê na tabela 1.

 

Tabela 1

O Brasil no ranking mundial

Produção – Safra 2019/2020

 

Produto

Classificação

Participação

Milho

3°

9,1%

Soja

1°

36,8%

Café

1°

38,3%

Açúcar

1°

16,9%

Algodão

4°

10,8%

Laranja

1°

40,8%

Maçã

8°

1,7%

Uva

7°

4,2%

Leite Fluido

6°

4,4%

Leite em Pó

4°

12,2%

Carne Bovina[3]

2°

16,8%

Carne Suína

4°

4,4%

Carne de Frango[4]

3

13,7%

                                   Fonte: Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de MC[5]

                                   Elaboração do autor

 

Graças à maciça participação da produção agropecuária o Brasil tem conseguido expressivos superávits em sua balança comercial, num dos poucos indicadores positivos da nossa economia.

Meu segundo exemplo de motivo de orgulho é o Sistema Único de Saúde, mais conhecido como SUS, denominação do sistema público de saúde brasileiro, criado pelos constituintes de 1988 no dia 17 de maio, na 267ª sessão da Assembleia Nacional Constituinte.

Inspirado no modelo inglês, o National Health Services, o SUS tem como princípios fundamentais a universalização, a equidade e a integralidade e como princípios organizativos a regionalização e hierarquização, a descentralização e comando único e, por fim a participação popular.

Seguindo esse conjunto articulado de princípios, o SUS transformou o Brasil no único país do mundo com mais de 200 milhões de habitantes a possuir um sistema de saúde pública universal, que tem sido capaz de enfrentar de maneira satisfatória o duro desafio representado pela demanda brutalmente ampliada por leitos hospitalares em função da pandemia do Covid-19.

Essa extraordinária capacidade de resposta do SUS, acompanhada evidentemente da eficiência de nossa rede hospitalar privada, impede que a situação atinja ainda maior gravidade num país que em junho assumiu a triste condição de segundo do mundo em quantidade absoluta de mortos e primeiro em número de mortes diárias.

Não fosse isso, a combinação de: (i) desinformação e desorientação decorrentes da falta de coordenação entre os discursos e as ações das diferentes esferas de governo; (ii) elevado grau de desigualdade que continua prevalecendo entre e dentro de diversas regiões do País; (iii) baixo nível de consciência e de cidadania de parte da parcela mais esclarecida da sociedade brasileira fariam – e talvez ainda façam, considerando que não se sabe como será a evolução daqui em diante – com que a situação fosse ainda mais trágica.



[1] Economista, graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Mackenzie, mestre em Criatividade e Inovação pela Universidade Fernando Pessoa (Portugal), é sócio-diretor da empresa SAM - Souza Aranha Machado Consultoria e Produções Artísticas e diretor adjunto do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial. Foi presidente do Corecon-SP e do Cofecon.

[2] Dia 21 de junho, próximo domingo, essa conquista completará 50 anos.

[3] Ocupante do 2° lugar no ranking da produção de carne bovina, o Brasil lidera o ranking de exportação.

[4] Ocupante do 3° lugar no ranking da produção de carne de frango, o Brasil lidera o ranking de exportação.

[5] SECRETARIA de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais. Perfil Mundial. Disponível em http://www.reformaagraria.mg.gov.br/images/documentos/perfil_mundial_abr_2020[1].pdf.

 

 

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