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Dívida e rombo nas contas expõem o Brasil

A explosão do endividamento bruto do governo e o rombo das contas públicas colocam o Brasil no mesmo time de outros países emergentes muito mais vulneráveis às turbulências globais recentes.

​O país nunca foi tão pouco dependente de fluxos de capital externo —tem um déficit em conta-corrente de apenas 0,4% do PIB (Produto Interno Bruto), e uma grande parcela das contas externas é financiada por investimentos estrangeiros diretos, pouco voláteis.

A Argentina e a Turquia, ao contrário, ultrapassam o nível considerado seguro para esse déficit, de 4% do PIB.

Além disso, enquanto o Brasil tem um gordo colchão de reservas, de US$ 382 bilhões, a Argentina tem apenas US$ 51,9 bilhões e teve de recorrer a um pacote de US$ 50 bilhões do FMI (Fundo Monetário Internacional), assinado na semana passada.

No entanto, agora que o humor global azedou, muitos investidores não estão diferenciando o Brasil de outros emergentes mais frágeis e levaram o dólar a bater em R$ 3,925 na semana passada.

Com a perspectiva de o dólar se manter forte e os juros americanos subirem, aliada a tensões causadas pelo protecionismo e alta do petróleo, houve uma redução da liquidez global e os investidores ficaram mais seletivos.

Há três meses, o dólar estava em R$ 3,20: os investidores não pareciam se incomodar tanto com a alta da dívida bruta do governo brasileiro —de 56% do PIB em 2014 para 74% (nas contas do BC; para o FMI, são 87,3%).

No atual ambiente de aversão a risco, o endividamento e o déficit do Orçamento, em 7% do PIB, passaram a ser examinados com lupa.

“Fomos pegos na mudança de fase global com várias más notícias domésticas”, diz Tony Volpon, economista-chefe do UBS. “Quando o ambiente externo está positivo, há um desconto para fatores domésticos de vulnerabilidade. Quando está negativo, esses fatores são amplificados.”

Além disso, explica Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe do Bradesco, o Brasil é um mercado muito mais líquido do que outros emergentes, então, quando há um aperto nas condições externas, é mais fácil vender os ativos brasileiros do que os de outros mercados menores.

Outro motivo para o real ser relativamente mais afetado é a redução na remuneração a investidores estrangeiros —com os juros brasileiros em 6,5%, a diferença entre as taxas do Brasil e do resto do mundo nunca foi tão baixa.

No ano, o peso da Argentina acumula queda de 26,9%, e a lira turca, de 15,31%. O real vem logo depois, com 10,8% de desvalorização. A rupia indiana teve recuo de 5,39%, o rand sul-africano caiu 5,35%, e a rupia da Indonésia, 2,78%.

Todos esses países, menos o Brasil e a África do Sul, elevaram os juros nos últimos dias, e crescem as pressões para que o Banco Central aumente as taxas para conter a desvalorização do real, hipótese já rejeitada pelo presidente da instituição, Ilan Goldfajn.

Ilan já deixou claro que não pretende usar a política monetária para controlar o câmbio. 

“A Argentina e a Turquia fizeram um choque de juros porque precisavam atrair o investidor estrangeiro e a inflação deles estava muito acima da meta. No Brasil, a inflação está bem abaixo da meta e não precisamos aumentar os atrativos para investidores estrangeiros”, diz Barbosa.

“É um contrassenso elevar juros sem inflação e sem vulnerabilidade externa. O BC pode continuar a usar os swaps e, eventualmente, as reservas.”

Para Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, não faz o menor sentido falar em aumento de juros no Brasil neste momento.

“Primeiro, porque o objetivo da política monetária do BC é manter a inflação dentro da meta e deixar as expectativas ancoradas. Não temos regime de meta de câmbio, nem copiamos a política monetária do país A, B ou C”, diz.

Bancos como o Itaú e o Bradesco reduziram a previsão de alta do PIB neste ano para menos de 2%, diante da recuperação mais lenta da economia, principalmente do mercado de trabalho. A grande ociosidade reduz a probabilidade de a alta do câmbio contaminar a inflação. Kawall continua prevendo inflação abaixo da meta neste ano, sem alta de juros. 

“Comparar o Brasil com esses países é comparar laranja com banana”, diz. A Argentina estava com juro real em quase zero, por causa da inflação alta, e a Turquia tem grande exposição a dívidas em moeda estrangeira. A dívida externa bruta brasileira é de cerca de 25% do PIB e o país não tem dívida interna indexada ao dólar, ao contrário da Argentina.

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