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Produção nacional de diesel é a mais baixa em 15 anos

A produção nacional de óleo diesel atingiu no primeiro trimestre de 2018 o pior nível para o mesmo período desde 2003. A retração é resultado de nova estratégia de gestão do refino da Petrobras, que vem sendo criticada por abrir mercado a combustíveis importados.

Com a política de preço de reajustes diários atreladas à variação do câmbio e do preço do petróleo, adotada pelo ex-presidente da Petrobras, Pedro Parente, era mais vantajoso para a estatal importar o produto, daí a redução da produção nacional e o aumento da importação.

No novo cenário, que inclui represamento da preço no mercado interno, sem reajustes diários, a estimativa é que a importação de diesel possa reduzir as margens de ganho da Petrobras. O gasto com essa parcela de diesel importado vai continuar pressionada pela alta no preço do óleo (por divergências entre os produtores mundiais) e aumento do dólar (causado pela guerra comercial global liderada por Donald Trump presidente dos EUA, alta dos juros americanos e eleições no Brasil).

Com a paralisação dos caminhoneiros, representantes da oposição e até aliados do governo passaram a questionar a política de preços dos combustíveis e o crescimento da participação de combustíveis importados no mercado brasileiro.

Pressionado pelas críticas, Pedro Parente pediu demissão da estatal na sexta (1º) e será substituído pelo diretor financeiro da companhia, IvanMonteiro.

Na gestão Parente, a Petrobras mudou a estratégia de gestão do refino, optando por produzir menos diesel sob a justificativa de que, a partir de determinado volume, pode ser mais vantajoso para a companhia exportar petróleo e importar o combustível.

De acordo com dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), o país produziu 9 bilhões de litros de diesel no primeiro trimestre, volume 9,2% inferior ao verificado no mesmo período de 2017 e 25% menor do que o recorde atingido em 2013.

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Veja a cronologia do inferno astral da Petrobras

Minha Folha

3.ago.2015 - Ex-ministro José Dirceu é preso, acusado de ter criado o esquema do petrolão. O juiz federal Sérgio Moro decretou ainda o bloqueio de até R$ 20 milhões do ex-ministro, além de determinar o bloqueio de bens no mesmo valor de outros seis alvos da investigação   14.ago.2015 - Petrobras adere ao Refis para pagar dívida de R$ 6 bilhões pelo não recolhimento de imposto de renda na importação de petróleo e derivados. Na imagem, um navio petroleiro em Niterói (RJ)   10.set.2015 - Petrobras perde o selo de bom pagador da agência Standard & Poors, limitando ainda mais seu acesso a financiamentos. No mesmo dia, propõe um programa de corte de 25% dos salários em troca de redução da jornada de trabalho   14.set.2015 - Por divergências com a direção da companhia, o presidente do conselho de administração da Petrobras, Murilo Ferreira (foto), que também preside a Vale, pede licença do cargo. O conselheiro Luiz Nelson Guedes de Carvalho é eleito para ocupar o cargo interinamente   17.set.2015 - Em negociação salarial com seus empregados, Petrobras propõe reajuste abaixo da inflação pela primeira vez em governos petistas. Na imagem, ato do Sindicato Unificado dos Petroleiros e da CUT na avenida Paulista   29.set.2015 - Petrobras anuncia reajustes de 6% no preço da gasolina e 4% no preço do diesel para recuperar margens perdidas com a disparada do dólar. Na imagem, gerente aumenta a indicação dos preços de combustíveis   30.set.2015 - Acordo com Banco do Brasil troca empréstimo de US$ 1 bilhão por títulos de RS$ 4 bilhões, com o objetivo de reduzir a vulnerabilidade às variações cambiais. Na imagem, Aldemir Bendine, que saiu da presidência do Banco do Brasil para assumir a Petrobras, depõe em CPI da estatal   7.out.2015 - Pela primeira vez, Petrobras não comparece a leilão de áreas de exploração de produção de petróleo realizado pela ANP. Na imagem, indígenas protestam durante o leilão contra a extração via fraturamento hidráulico ('fracking') 

   03.dez.2015 - Petrobras anuncia 2º reajuste no preço do gás de cozinha em 4 meses   17.mar.2014 - Polícia Federal deflagra, em seis Estados e no DF, a Operação Lava Jato que investiga um grande esquema de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras do país e políticos. Dezessete pessoas são presas, entre elas, Alberto Youssef, doleiro suspeito de comandar o esquema   19.mar.2014 - Comprada em 2006, a refinaria de Pasadena, no Texas, gerou perdas de US$ 792 milhões à Petrobras, segundo o TCU. No dia 19, o governo surpreende ao emitir nota dizendo que a compra foi baseada num parecer falho. Ministra da Casa Civil em 2006, a presidente Dilma presidia o conselho da Petrobras e votou a favor do negócio

   20.mar.2014 - Diretor de abastecimento da Petrobras de 2004 a 2012, Paulo Roberto Costa é preso pela PF sob a suspeita de destruir e ocultar documentos. Costa passou a ser investigado após ganhar, em março de 2013, um carro de luxo de Youssef. A ligação com o doleiro joga a Petrobras para o centro do escândalo 

   30.dez.2014 - A Petrobras suspende negócios com 23 fornecedoras citadas como integrantes de um cartel. A crise pela qual a estatal passava atinge algumas das maiores companhias do país, como Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Odebrecht e Galvão Engenharia, que são tragadas de vez para o centro do escândalo   13.jan.2015 - Não foi só o escândalo desencadeado pela Operação Lava Jato que prejudicou a Petrobras. Em adição ao início da operação da PF, o preço do barril também tem tido fortes quedas. O ponto mais baixo dentro desse intervalo foi no dia 13 de janeiro de 2015, com o barril cotado a R$ 46,69, valor 60% menor do que o pico de junho de 2014    28.jan.2015 - A Petrobras divulga, após dois adiamentos, um balanço com os resultados da empresa no terceiro trimestre de 2014, mas ele não é assinado pela empresa de auditoria PwC. O documento fala em queda de 38% no lucro da empresa do período em comparação com o trimestre anterior, mas não contabiliza o dinheiro perdido em desvios investigados pela Lava Jato   14.jan.2015 - Ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró é preso no Rio de Janeiro. Ele foi diretor da área entre 2003 e 2008, e, como tal, esteve à frente da compra dos 50% iniciais da refinaria de Pasadena, no Texas, em 2006. Sob suspeita, a compra gerou perdas de US$ 792 milhões à estatal, segundo o TCU (Tribunal de Contas da União)   29.jan.2015 - O então diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, afirma que a empresa estuda não pagar dividendos aos acionistas, dentro da possibilidade de 'lucro zero'   04.fev.2015 - Após sucessivas negativas por parte de Dilma, a presidente da Petrobras, Graça Foster, renuncia junto a outros cinco diretores da companhia. Sua permanência no cargo havia ficado insustentável em meio às denúncias de corrupção na Petrobras. A saída é bem recebida pelo mercado   06.fev.2015 - Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil, é escolhido como substituto de Graça Foster na presidência da Petrobras e Ivan Monteiro, que era vice-presidente de Finanças do Banco do Brasil, se torna o novo diretor financeiro da Petrobras. A escolha de dois nomes ligados ao governo não agrada o mercado e as ações da empresa caem 7%    24.fev.2015 - Petrobras perde o grau de investimento, espécie de selo de segurança para o investimento, da agência de classificação de riscos Moody's. O motivo é a dificuldade da empresa em publicar o balanço auditado e levantar dinheiro no mercado de capitais   02.mar.2015 - Petrobras informa que pretende colocar à venda US$ 13,7 bilhões (R$ 39 bilhões) em projetos e empreendimentos para tentar reduzir suas dívidas   17.mar.2015 - Como estratégia do governo para conter a inflação, a Petrobras vende combustíveis por preços menores do que os que paga na importação. A defasagem, aliada a investimentos pouco rentáveis prejudicam os lucros da empresa. Isso contribui para que a dívida da Petrobras quase dobre entre 2012 e 2014, passando de R$ 181 bilhões para R$ 332 bilhões    22.abr.2015 - Após 159 dias de atraso em relação ao balanço do terceiro trimestre de 2014 e 22 em relação ao ano fechado, a Petrobras finalmente divulga o seu balanço auditado. Ele aponta o primeiro prejuízo anual da companhia desde 1991   15.mai.2015 - Empresa divulga balanço do primeiro trimestre de 2015, com lucro de R$ 5,3 bilhões, com uma dívida líquida de R$ 332 bilhões. O resultado surpreendeu o mercado, que esperava lucro inferior    29.jun.2015 - Em meio à crise, o novo Plano de Negócios e Gestão reduz em 37% os investimentos para o período de cinco anos e prevê US$ 57,7 bilhões em vendas, desmobilização e reorganização de ativos. Entre os primeiros lotes, estão fatias na BR Distribuidora, na malha de gasodutos, térmicas e campos do pré-sal   02.jul.2015 - O ex-diretor internacional da Petrobras, Jorge Zelada, é preso na 15ª fase da Operação Lava Jato sob a suspeita de envolvimento em crimes de corrupção, fraude em licitações, desvio de verbas públicas, evasão de divisas e lavagem de dinheiro   16.jul.2015 - Empresa perde processo administrativo na Receita e paga R$ 1,6 bilhão em dívidas de Imposto sobre Operações Financeiras sobre operações no exterior   21.maio.2018 - Caminhoneiros decidem entrar em greve até que o governo reduza a tributação sobre o óleo diesel   1º.jun.2018: Pedro Parente pede demissão da Petrobras depois de dois anos no cargo   Ivan Monteiro em audiência conjunta no Senado que discutiu situação da Petrobras, em abril de 2015 

02.mar.2015 - Petrobras informa que pretende colocar à venda US$ 13,7 bilhões (R$ 39 bilhões) em projetos e empreendimentos para tentar reduzir suas dívidas /Leo Correa - 13.mar.2015/Associated Press

 

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A queda se deu em um momento de recuperação, ainda que pequena, das vendas internas do combustível, que cresceram 1,8% no trimestre, para 13,1 bilhões de litros. Foi o primeiro ano de aumento desde 2014, quando se iniciou a recessão.

Os dados da ANP mostram que o diesel nacional está sendo substituído por importações, apesar da mudança de frequência dos reajustes promovida pela Petrobras em julho de 2017, que permitiu ajustes diários para competir com produtos importados.

As importações de diesel atingiram 3,6 bilhões de litros no primeiro trimestre, alta de 5,3% com relação ao ano anterior e custaram ao país US$ 1,8 bilhão no período. O volume importado é o maior desde 2000, quando a ANP passou a compilar dados sobre o mercado de combustíveis no país.

Assim, no primeiro trimestre, a participação de diesel importado nas vendas do combustível no país chegou a 28%, a maior da série histórica e 27% superior à segunda maior, em 2017. O crescimento das importações reduz a operação das refinarias e é um dos alvos da greve iniciada pelos petroleiros na última quarta (30).

“A empresa está sendo prejudicada”, afirma o diretor da FUP (Federação Única dos Petroleiros), Deyvid Bacelar, que já representou os empregados da Petrobras no conselho de administração da estatal. Ao fim do primeiro trimestre, o nível de utilização das refinarias da empresa era de 77%.

A estratégia passou a ser questionada por políticos tanto da oposição quanto do governo e ganhou destaque entre postulantes a cargos públicos nas eleições de 2018 após o início da greve dos caminhoneiros.

“Vejam que absurdo: na hora em que o Brasil tem superprodução [de petróleo], nós viramos importador crescente de derivados em dólar”, criticou nesta semana o pré-candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes.

PONTO ÓTIMO 

A Petrobras defende que o recuo na produção de diesel é parte de uma estratégia de gestão do refino, que prioriza a rentabilidade das operações ao invés dos volumes de produção. E que, em certos casos, é melhor exportar petróleo do que refinar no Brasil.

“Existe um ponto ótimo de refino que gera o melhor resultado”, disse em vídeo gravado esta semana o gerente executivo de Logística do Refino e Gás da Petrobras, Claudio Mastella. No vídeo, ele argumentava para os empregados da companhia as vantagens da política.

Segundo ele, a partir desse “ponto ótimo”, o refino começa a gerar derivados que valem menos do que o petróleo ou que não têm mercado perto das refinarias, o que aumenta o custo de transporte. “Nessa hora, comparando com a alternativa, que é exportar o petróleo, vende exportar o petróleo”, afirmou, dizendo que a decisão considera as condições de demanda e preço do petróleo e dos derivados.

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