Gerir as contas e investimentos de bancos diferentes em um único app, acessar crédito pessoal em instituições nas quais você não tinha conta e movimentar dinheiro de um app para outro são algumas das iniciativas já em funcionamento sob o guarda-chuva do Open Finance no Brasil, o sistema de compartilhamento de dados com consentimento do cliente.
Segundo o Serasa Experian, o Open Finance pode incluir 4,6 milhões de pessoas no mercado de crédito e injetar pelo menos R$ 760 bilhões na economia.
O relatório do BC, divulgado em agosto, mostra que hoje são mais de 800 instituições participantes e 6,7 milhões de consentimentos ativos. O sistema já nasceu com a perspectiva da interoperabilidade com sistemas adjacentes, como o Open Insurance (iniciativa análoga que está sendo conduzida na área de Seguros), e com câmbio e investimentos mais para frente.
Apesar dos avanços de cronograma, com quatro fases do ecossistema iniciadas, muitos consumidores ainda têm dificuldades de entender o que é o Open Finance e seu funcionamento.
Bruno Loiola, co-fundador da Pluggy, fintech de dados financeiros do Open Finance, Rogerio Melfi, membro da ABFintechs e participante do grupo técnico de trabalho do BC e Nic Marcondes, diretor e sócio da Quanto, destrincham os principais mitos em relação ao Open Finance. Confira:
1.“Todo mundo terá acesso aos meus dados”
As empresas só terão acesso aos dados dos consumidores se estiverem autorizadas por ele. Esse é o principal pilar do ecossistema, que busca dar mais controle para ao cliente.
É comum achar que, a partir da implementação do Open Finance, os dados das pessoas estarão disponíveis para o uso de qualquer um e a qualquer momento. Existem, na verdade, uma série de regras de governança, além de leis, que as instituições participantes precisam seguir para poder usufruir do ecossistema.
Quando o consumidor autoriza o compartilhamento de um dado pessoal, no intuito de obter um produto ou serviço, a instituição precisa obrigatoriamente informar para qual finalidade os dados serão utilizados e especificar quais são esses dados.
Além disso, o cliente poderá escolher por quanto tempo eles serão utilizados. As informações também estarão respaldadas pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que dá autonomia e proteção para cada pessoa administrar seus dados, e pela Lei do Sigilo Bancário, que proíbe o compartilhamento de dados para instituições não participantes do Open Finance, bem como proíbe a venda de informações de consumidores para terceiros.
2. “Só há benefício em compartilhar um dado”
O objetivo do Open Finance é que o consumidor compartilhe dados para obter melhores produtos e serviços, que resultam em mais benefícios. Com dados em mãos, a instituição conhece melhor um usuário novo e pode oferecer uma taxa justa e competitiva no mercado ou produtos que façam mais sentido com o momento de vida do consumidor.
Por outro lado, é importante que os consumidores entendam porque vão compartilhar informações. A ideia é que ele tenha a escolha de compartilhar quando e qual dado desejar.
Um exemplo: um cliente busca abrir uma conta em uma instituição B participante do Open Finance e, para agilizar o processo e evitar preenchimento de muitos formulários, aceita compartilhar seus dados do Banco A, que já usa há anos, para que essa nova instituição passe a conhecê-lo e libere produtos e serviços mais rapidamente, como acesso a crédito.
O objetivo do consumidor, nesse caso, é encontrar equilíbrio entre expor os dados e usar o leque de opções do Open Banking a seu favor.
3. “Passarei a receber diversas ofertas indesejadas”
As ofertas indesejadas tendem a cair porque a personalização deve ser um dos diferenciais do Open Finance.
A lógica é que, a partir do consentimento do cliente e compartilhamento de seus dados, a instituição tenha mais informações sobre ele, como seu histórico financeiro. Saberá, portanto, com mais precisão o que oferecer e quais são as melhores opções de crédito para o usuário.
Embora todo cliente tenha uma história dessa para contar, o bombardeamento de propagandas e tentativas de vendas para os usuários é prejudicial também à empresa. Muitas vezes o cliente simplesmente não compra o produto ou serviço e, no limite, pode cansar das abordagens e procurar outras opções.
Hoje, via de regra, as instituições financeiras têm ofertas baseadas em perfis generalizados de clientes, categorizando-os da mesma maneira por não ter informações suficientes.
Assim, a ideia do Open Finance é adquirir informações para que essas ofertas sejam mais assetivas e façam mais sentido para esse consumidor.
4. “Terei que pagar para utilizar o Open Finance”
O cliente que optar por compartilhar seus dados com uma instituição participante do ecossistema não pagará nenhuma taxa. Como a ideia é incentivar o consumidor a aderir ao ecossistema, não faz sentido cobrar o compartilhamento de seu dado pessoal.
Exemplo: um consumidor compartilha os próprios dados para trazer informações de outros bancos a um app que faz a gestão de suas contas e investimentos. Essa ação não será cobrada, mas, dentro do app, poderá ter um serviço de assinatura de um conteúdo exclusivo da empresa que tenha custo ao consumidor.
Vale ressaltar que é possível fazer pagamentos a partir do Open Finance, como iniciar uma operação via Pix, a partir do compartilhamento de dados. Neste caso também não há cobranças.
5. “Não posso me arrepender de compartilhar meus dados”
Todo cliente poderá interromper a qualquer momento o compartilhamento de dados.
Mesmo que não haja um arrependimento especificamente, o cliente tem liberdade de solicitar a suspensão do compartilhamento quando quiser. Ao fazer isso, a instituição não tem mais o direito de utilizar as informações deste consumidor.
6. “Open Finance não funcionou no Brasil”
A chegada do Open Banking foi muito associada ao Pix, lançado em novembro de 2020. Diferentemente do sistema de transações instantâneas do Banco Central, que é um produto e ganhou escala, o Open Banking é um ecossistema mais complexo, e caminha em uma esteira de inovação mais lenta.
O Open Finance ainda exige muito das instituições, do ponto de vista da infraestrutura tecnológica e das adaptações burocráticas às regras definidas pelos grupos de governança, que incluem representantes de todas as instituições do mercado e do Banco Central.
Especialistas defendem que o Brasil está na vanguarda mundial do Open Finance ao construir um ecossistema com auxílio do mercado (via autorregulação) e que conta com a regulação e a fiscalização do Banco Central.
A implementação do Open Banking começou em fevereiro de 2021 com a primeira fase, quando as instituições participantes compartilharam seus dados entre si. Depois, a fase 2 teve início em 13 de agosto de 2021 e começou a impactar o cotidiano do consumidor com a possibilidade do compartilhamento de dados cadastrais, como nome, CPF/CNPJ, endereço, informações de crédito e cartões.
Fonte : Infomoney