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IPCA e CPI: indicadores de inflação apontam para juros ainda maiores nos EUA e Brasil

(Shutterstock)

Dados de inflação estão no foco dos negócios desta quarta-feira (11) e mostram que a escalada global de preços não está dando trégua. Aqui no Brasil, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 1,06% em abril na comparação com março, praticamente em linha com o consenso do mercado (1%). Nos Estados Unidos, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês), variou 0,3% de março para abril – o mercado previa alta de 0,2%.

Ainda que não tenham vindo muito diferentes do consenso de economistas e analistas, em ambos os casos, os índices reforçam preocupações de um ciclo de aperto monetário mais agressivo. Aqui no Brasil, onde os juros estão na casa de dois dígitos (e a inflação também), é um sinal de que a Selic deve continuar subindo.

A inflação em abril também marcou a pior variação anual desde 2003, alta de 12,13%. Para o mês, a alta de 1,06% foi a maior desde 1996.

“Com IPCA de hoje, ficou claro que teremos alta de juros em junho”, diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. Ele explica que o IPCA desacelerou em relação à março (quando avançou 1,62%), o que já era esperado, pois entrou em vigor a bandeira verde da tarifa de energia. Mas os alimentos pesaram mais, sobretudo produtos de trigo e soja, impactados pela oferta escassa das commodities com a guerra da Ucrânia. “Por mais que o conflito seja distante do Brasil, os efeitos chegaram no dia a dia da população”, afirma.

Alta dos combustíveis também impactaram o índice de forma importante. Os novos reajustes desta semana devem adicionar pressão do próprio governo contra a Petrobras (PETR3;PETR4), segundo o economista. “Imagino que a interferência vai ser mais elevada nos quatro meses antes da eleição”, afirma Cruz.

Com a troca do ministro de Minas e Energia, a sensação é de que o governo deve interferir mais nos preços, diz ele. “Isso pode até significar um IPCA menor adiante, dado o impacto desses itens, mas não sabemos se depois das eleições vai vir um ajuste mais forte.”

O Goldman Sachs observa que o núcleo da inflação registrou alta acima do esperado de 0,95% em abril, acelerando para 9,69% anualmente. A inflação entre bens duráveis está em alta de 14,96% ano a ano, bem como a de bens industriais, que permanece elevada, em 14,22% ano a ano (de 13,44% em março).

O banco volta a salientar que “a inflação está não apenas muito alta, mas também altamente disseminada; projetada para permanecer acima de 10% até agosto de 2022”.

“Espera-se que o choque amplo e provavelmente duradouro nos preços das commodities e outros custos de produção de logística/insumos mantenha as pressões inflacionárias dos preços ao consumidor no curto prazo altas, apenas parcialmente compensadas pelo declínio anunciado nos tarifas de eletricidade”, diz a análise.

Perspectivas de inflação no Brasil continuam piorando, destaca XP

O IPCA de abril também veio acima da expectativa da XP (que projetava variação de 0,95%). A casa explica que a diferença entre as estimativas e o resultado real deveu-se, principalmente, ao aumento mais acentuado dos preços de “saúde e cuidados pessoais”.

Além disso, a XP destacou que a projeção de alta de 7,4% para o IPCA de 2022 está claramente inclinada para cima e caso alguns riscos se materializem (como parece acontecer), a inflação ao consumidor ficaria entre 9,0% e 9,5% neste final de ano.

Novas interrupções na cadeia de suprimentos, causadas pela “política de zero Covid” na China, e uma guerra prolongada na Ucrânia, acarretam riscos adicionais. A inflação de bens industriais pode chegar a 10% este ano, somando 70 pontos-base à expectativa da XP para o IPCA de 2022.

“O que mais preocupa, entretanto é o qualitativo do índice, que continua bastante negativo, registrando uma medida de difusão perto dos 80% e núcleos ainda bastante pressionados”, afirma Luca Mercadante, economista da Rio Bravo.

As projeções da casa de análise também estão cada vez mais altistas e é provável que a inflação fique acima dos 7,2% projetados para 2022. “A partir de maio, a inflação deve começar a desacelerar, mas com a persistência da alta de preços, a queda tende a ser mais lenta do que o esperado anteriormente, piorando as expectativas para o ano”, conclui Mercadante.

FED também tem trabalho duro pela frente

O CPI americano dos últimos 12 meses acumula alta de 8,3%, indicando uma desaceleração em abril e que a inflação americana pode ter atingido um pico. Porém, ela continua próxima da maior variação anual em 40 anos e as pressões inflacionárias também estão bem disseminadas, com peso maior dos setores de habitação e alimentos.

“Tivemos China, EUA, Alemanha e Brasil divulgando inflação agora pela manhã. Todos os números bem ruins mostrando que esse problema veio para ficar e por enquanto vamos ter que lidar com ele com medidas bem duras”, afirma Marcelo Oliveira, fundador da Quantzed.

O Morgan Stanley, por sua vez, observa que o CPI nos EUA foi impulsionado quase que inteiramente pelo aumento nas tarifas aéreas.

O núcleo da inflação ao consumidor aumentou 0,57% no mês, contra estimativa de 0,50% do Morgan e 0,40% do consenso. “Por trás desse resultado acima do esperado, houve um aumento substancial de 18,6% mês a mês nas passagens aéreas”, sublinha o o banco. “Isso foi bem acima do aumento de 5,5% que esperávamos e adicionou um incremento de 8 pontos base ao núcleo da inflação do CPI mês a mês, em relação ao esperado”.

Os demais serviços principais ficaram mais alinhados com as expectativas. No geral, deixando de lado o aumento das passagens aéreas do mês, a tendência subjacente da inflação mensal parece amplamente estável em torno de 0,5% por mês, algo que vem ocorrendo desde novembro, diz a análise.

“O núcleo anualizou 6,3% desde novembro, consistente com essa tendência subjacente, e assim, embora provavelmente tenhamos ultrapassado o pico de 12 meses do núcleo em 6,5% em março, um platô de curto prazo se formou não muito abaixo desse pico”.

Já a CM Capital destaca que, analisando a composição qualitativa dos dados, a começar pelos dois grupos que têm sido protagonistas da escalada inflacionária do país, alimentação e energia, foi possível observar um comportamento difuso se comparado ao que vinha sendo visto até então, com o grupo de alimentação mantendo sua trajetória ascendente, enquanto o de energia teve uma desaceleração, a primeira em um período histórico considerável.

No caso de energia, a explicação para os números vem especialmente da liberação dos estoques de petróleo por parte do governo, o que ajudou a contornar o crescimento exponencial do preço dos combustíveis, que vinham sendo motivo de grande insatisfação por parte dos consumidores do país. No acumulado anual, contudo, o mesmo padrão não pode ser observado, com o índice de energia acumulando crescimento de 30,3%, com destaque para a gasolina, que teve aumento de 43,6% entre abril deste ano e o mesmo mês do ano passado.

Para o economista Gustavo Cruz, o CPI de abril vai reforçar “a parte do mercado que pede uma aceleração de juros em 0,75” ponto percentual.

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