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100 dias de Joe Biden: uma nova agenda para os EUA com bons frutos no curto prazo (e com incertezas para o futuro)

Joe Biden discursa em sua posse como presidente dos EUA
Patrick Semansky/UPI/Shutterstock

O presidente Joe Biden está completando 100 dias de governo. É uma marca simbólica no folclore político. É quando o presidente ainda possui o máximo de capital político para mostrar a que veio. E Joe Biden não está andando em marcha lenta.

Pode ter sido uma grande coincidência ou golpe de sorte, mas o fato é que o ritmo de vacinação desde que ele assumiu o poder na Casa Branca acelerou muito. Até final de janeiro, pouco menos de 10% da população americana tinha sido vacinada, e hoje alcança quase 50%.

É evidente que aumentou bastante a oferta de vacinas desde então, mas essa velocidade está acima das projeções mais otimistas. Com alguma convicção, acredito que Biden será o rosto por trás da luta americana contra a Covid-19. Isso deve lhe garantir um bom capital político por algum tempo.

 

Em paralelo a isso, o presidente tem trabalhado com os parlamentares do seu partido para aprovarem alguns pacotes de estímulo fiscal em tamanho sem precedentes. O déficit primário esperado para esse ano alcança 10% do PIB, montante semelhante ao obtido em 2020, quando estávamos no auge da pandemia. As pautas trazidas pelo executivo têm sido fortemente progressistas como há muito não se via na Casa Branca.

Após aprovar um pacote de combate à pandemia de quase US$2 trilhões, Biden oferece ao debate legislativo, dois grandes planos de ação, um focado em gastos com infraestrutura (com ênfase na economia verde) e outro nas famílias mais pobres. O financiamento dessa vez não seria pelo aumento do endividamento, mas pela taxação aos mais ricos e corporações. A secretaria do Tesouro, Janet Yellen, ex-chairman do BC americano, vem argumentando que está na hora de “investir grande”, tanto para o combate a desigualdade como às mudanças climáticas.

Há um debate nos EUA, inclusive entre economistas ligados aos democratas, como Larry Summers e Olivier Blanchard, que a gestão Biden está exagerando na dose e aplicando mais estímulo do que seria necessário para fechar o hiato do produto. O resultado disso, possivelmente, seria atiçar o dragão adormecido da inflação.

Um contra-argumento dos que defendem as medidas é que os EUA, e o Fed em particular, possuem instrumentos para lidar com um eventual problema da inflação. Desde a grande crise financeira que a política monetária americana tenta combater mais os riscos da deflação do que da inflação, que pela ação da tecnologia, da demografia e da globalização, vem puxando para baixo os preços em âmbito global.

É possível dizer que a gestão econômica de Biden nesses 100 primeiros dias esteja sendo balizada pela moderna teoria monetária que, simplificando ao máximo, diz que os governos que emitem a sua moeda não têm restrições orçamentárias derivados de um suposto excesso de endividamento.

É difícil sustentar que esta teoria seja o principal guia da equipe econômica de Biden. O que me parece mais claro é que a gestão do novo presidente acredita que esses investimentos valem o risco-retorno e que se existe um trade-off entre desigualdade e crescimento, está na hora de privilegiar os mais pobres mesmo que isso custe um aumento de endividamento e alguma perda de eficiência na economia.

 

Olhando à frente, um marco importante na política americana é a eleição legislativa de meio de mandato (que eles chamam de midterm elections). Elas ocorrem sempre no final do segundo ano de mandato de cada presidente. Salvo o cenário de uma grande surpresa inflacionária até final de 2022, e isso acabe pressionando o Fed a subir os juros, me parece que o partido democrata chegará à esse pleito com uma vantagem importante derivada de um país que deve apresentar números de emprego, saúde e inflação muito positivos. Só em 2021, é esperado que os EUA cresçam em torno de 6,5% e a inflação seja um pouco abaixo de 2%.

Os primeiros 100 dias de Biden deixaram claro que estamos diante de uma gestão com uma agenda diferente dos últimos presidentes com foco na desigualdade e no clima. No curto prazo, isso deve lhe dar popularidade e gerar frutos ao seu partido. A incerteza que fica no ar é como ele vai lidar quando os conflitos econômicos aparecerem, em particular, quando e se surgirem em forma de inflação ou alguma crise de endividamento e confiança. Aí o desafio de manter a agenda progressista será realmente grande.

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