Se já é tarefa complicada acompanhar o frenético noticiário brasileiro, imagine entender os desdobramentos das principais disputas internacionais. O investidor brasileiro sabe bem do que estou falando...
Desde que as discussões comerciais entre Estados Unidos e China se intensificaram, tem sido praticamente impossível ficar alheio ao que se passa do outro lado do mundo, que tanto tem interferido em nosso mercado e tem potencial significativo para pesar sobre o nosso dia a dia, caso o desfecho seja pior do que o imaginado.
O que começou como um conflito comercial entre as maiores potências globais está se estendendo agora para uma guerra cambial, que tende a respingar nas moedas de mercados emergentes, como o Brasil.
Mas você tem ideia de como essa história iniciou?
O começo de tudo
Recorrendo aos “arquivos do InfoMoney”, a história teve um de seus primeiros grandes eventos há mais de um ano, em março de 2018, quando o presidente americano Donald Trump anunciou sobretaxação de 25% no aço e 10% no alumínio importados pelo país. Apenas os membros do Nafta (México e Canadá) foram poupados.
Na ocasião, Trump disse estar cumprindo uma promessa de campanha, recuperando duas indústrias importantes para o país e os empregos nos setores. Trump afirmou ainda que aplicaria reciprocidade nas taxas de importação a produtos de outros países. "Se a China ou a Índia cobram uma alíquota de 25% nos automóveis, os EUA farão o mesmo", afirmou.
E a promessa foi cumprida.
Trump entrou na briga direta com a China, quando anunciou um pacote com tarifas de até US$ 60 bilhões contra a economia asiática, além de impor restrições às transferências de tecnologia e aquisições para Pequim.
O governo americano chegou a afirmar que os chineses usavam de intimidação e subterfúgios para adquirir a tecnologia do país, colocando as empresas dos EUA na China em desvantagem por meios de acordos de licenciamento injustos, além de desviarem empregos dos americanos.
Naturalmente a reação ocorreu e, já em abril de 2018, o governo chinês anunciou tarifas sobre 128 produtos americanos, de carne suína congelada e vinho a frutas e nozes, com restrições comerciais equivalentes a US$ 3 bilhões.
Desde então, os líderes dos dois países vêm trocando farpas e ameaçando a imposição de novas tarifas, com algumas delas de fato implementadas, acirrando os temores com relação à dimensão do problema.
Trégua passageira
No fim do ano passado, o mercado chegou a se entusiasmar quando Trump e o presidente da China, Xi Jinping, chegaram a um acordo durante o encontro do G-20 e impuseram uma trégua à guerra fiscal que vinha azedando o humor dos investidores.
Mas a alegria durou pouco...
E o que começou como uma guerra comercial se transformou também em temor de uma disputa cambial.
Em um dos capítulos mais recentes dessa história, Trump elevou o tom do ataque, acusando os chineses de manipulação do câmbio. E após Pequim permitir a desvalorização de sua moeda, o governo americano decidiu classificar oficialmente a China como manipulador de câmbio pela primeira vez em 25 anos.
Como apontou o repórter Rodrigo Tolotti em reportagem publicada nesta quarta-feira, que você pode conferir aqui, nos últimos meses, o presidente americano também voltou suas críticas para o Banco Central Europeu (BCE), fazendo as mesmas acusações e pedindo para o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) agir a ponto de desvalorizar o dólar.
Resta agora acompanhar os próximos passos das principais potências mundiais nessa história para ter a dimensão da extensão da disputa, e o quanto dela irá recair sobre mercados como o brasileiro. Os desfechos ainda parecem ser imprevisíveis, mas já há cenários sendo desenhados. Entre eles, uma possível recessão global, caso a tensão aumente, levando a cortes mais intensos de juros pelo Fed e também no Brasil.
É bom se preparar.
Beatriz Cutait, editora do InfoMoney