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Como estaremos em 30 anos? 2052 começa agora

Três décadas de transformações desde a ECO-92 mostram como o mundo avançou no debate ambiental e que a janela de oportunidade para o Brasil mudar sua rota está aberta

Por Marina Grossi*

Como estaremos em 30 anos? 2052 começa agora

Anne Nygard/Unplash

Quantas transformações cabem em três décadas? Neste ano, celebramos os 30 anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92 - ou Eco-92, como também ficou conhecida. A cúpula, realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992, reuniu representantes de mais de 170 países para discutir um novo modelo de desenvolvimento, menos predatório para os recursos naturais e socialmente mais justo.

A Rio-92 foi marcante por uma série de motivos. Apresentou a agenda ambiental para a população brasileira, ao mesmo tempo em que incentivou a mobilização para que movimentos da sociedade civil, antes dispersos, mostrassem sua cara. O momento histórico era peculiar: o Brasil colhia os frutos da redemocratização, iniciada uma década antes, que favoreceu a formação de grupos ativistas, e da Constituição de 1988 - um verdadeiro divisor de águas, pois colocou a questão ambiental em evidência, possibilitando a criação de todo um arcabouço de leis ambientais.

Fora do Brasil, as discussões sobre um novo paradigma de desenvolvimento econômico haviam iniciado 20 anos antes, na conferência da ONU sobre ambiente e desenvolvimento realizada em Estocolmo, Suécia - que também fez aniversário e foi coroada com o evento Estocolmo +50, cujo anfitrião foi o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. A conferência de 1972 na capital sueca discutiu pela primeira vez, em escala mundial, o impacto da atividade humana sobre o planeta. Mas, na ocasião, o Brasil havia defendido o “direito de poluir” para se desenvolver.

A Rio-92 trouxe imensos legados para a agenda do desenvolvimento sustentável: lançou as Convenções-Quadro das Nações Unidas sobre mudanças climáticas e biodiversidade, que resultaram em compromissos internacionais como o Acordo de Paris e o Marco Global para a Biodiversidade.

Também assinalou uma revisão de posição por parte do país e das empresas, que sentiam os efeitos da pressão social pelo cumprimento da legislação ambiental. Enquanto as ONGs despontavam como vedetes da conferência, as empresas eram consideradas vilãs - mas houve, pela primeira vez, o reconhecimento de que os negócios eram também parte da solução e que era preciso trabalhar em conjunto com outras esferas da sociedade.

Globalmente, as empresas começaram a se organizar para enfrentar esses desafios em coalizões como o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD). O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) faz parte dessa rede, sendo fundado em 1997 por um grupo de grandes empresários brasileiros, atentos aos desafios e oportunidades da sustentabilidade. Hoje formado por 95 grandes empresas, entre nacionais e multinacionais, o CEBDS tem influenciado positivamente a tomada de decisões, com intensa participação nas COPs de clima, biodiversidade e em contribuições para a agenda política.

 

No ano passado, por exemplo, durante a COP26, em Glasgow, Escócia, levamos nosso posicionamento “Empresários pelo Clima”, documento assinado por 119 CEOs de grandes empresas e 14 entidades setoriais em prol de uma agenda verde de desenvolvimento para o Brasil. Foi um fator importante de pressão para que o país assumisse compromissos robustos durante a conferência, tais como os acordos de florestas e do metano, além de termos antecipado a meta de neutralidade climática de 2060 para 2050; o país também se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal até 2028.

Neste ano, com as eleições batendo à porta, manifestamos, por meio da Carta Aberta aos Presidenciáveis, a visão do setor empresarial brasileiro sobre o modelo de desenvolvimento que almejamos, com 12 propostas para o cumprimento de nossos compromissos internacionais. Desde 2014 temos feito o papel de assessorar os candidatos para que a agenda sobre clima e sustentabilidade faça parte de seus planos de governo.

Os últimos 30 anos, sim, trouxeram muitas mudanças na percepção da sociedade em relação às questões sociais e ambientais. Agora, com as três grandes crises que se entrelaçam e ameaçam nossa existência na Terra - a emergência climática, a perda da biodiversidade e a crescente desigualdade social -, não temos mais três décadas para agir.


A tomada de ação precisa ser agora: a década entre 2021 e 2030 é a janela de oportunidade que temos para acelerar o passo rumo a uma economia de baixo carbono, verde, próspera e inclusiva.

O mundo mudou desde a Rio-92, e o Brasil tem plenas condições de corrigir sua rota e fazer parte do grupo de países que vai liderar essa transformação. Como estaremos em 30 anos? 2052 começa agora.

*Marina Grossi é presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), entidade com 95 empresas associadas cujo faturamento somado equivale a quase 50% do PIB brasileir

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