Fim de mistério. Em seu primeiro encontro de 2020, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) cortou nesta quarta-feira (5) de 4,5% para 4,25% ao ano a meta para os juros básicos (Selic). A decisão foi unânime.
Em comunicado, o BC sinalizou para o fim do ciclo de cortes iniciado em julho de 2019.
"O Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela na condução da política monetária. Considerando os efeitos defasados do ciclo de afrouxamento iniciado em julho de 2019, o Comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária. O Comitê enfatiza que seus próximos passos continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação, com peso crescente para o ano-calendário de 2021", informou a autoridade monetária.
Bem como em sua reunião anteriores, o Copom deixou escrito que os dados atuais sinalizam para a "continuidade do processo de recuperação gradual da economia brasileira". Reiterou também o futuro da política monetária segue "dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação".
Trata-se do quinto corte consecutivo promovido na taxa referencial brasileira. Esse ajuste, no entanto, foi em dose menor que os anteriores. A Selic vinha descendo 0,5 ponto percentual por reunião do Copom. Com a decisão, a Selic renova o seu piso histórico, indo ao seu menor nível desde que a implementação do regime de metas para inflação no Brasil, em 1999.
Este corte de 0,25 ponto percentual não chega a surpreender. Embora não fosse dado como certeza, majoritariamente as apostas das casas de análise brasileiras miravam na Selic indo aos 4,25% ao ano nesta primeiro reunião do Copom no ano.
No comunicado de dezembro, em que a Selic desceu aos 4,5% ao ano, o BC havia deixado duas portas abertas para a reunião desta quarta, a de queda e a da manutenção – “dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação"
Apesar disso, a falta de sinalizações contrárias ao corte neste mês e meio pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, passou ajudou a esquentar as apostas na queda para 4,25% - por sinal, até a última segunda-feira, o mercado cravava a Selic nessa altura até o fim do ano.
Em entrevista recente ao Valor, Campos Neto minimizou os preços aquecidos da carne no fim do ano passado. De acordo com ele, assim como a alta foi rápida, a normalização do nível de preços das proteínas animais será.
A Selic flerta com mínimas históricas desde de o final de 2017, quando bateu nos 7% ao ano. Era o menor nível alcançado à época, superando os juros de 7,25% ao ano registrados entre outubro de 2012 e abril de 2013.
A maior explicação para a Selic experimentar mínimas recordes está na fraqueza da economia brasileira, consumo mirrado e, consequentemente, inflação (variação média dos preços) comportada.
A Selic é o instrumento usado pelo BC para controlar a inflação. Quando as projeções sobre elas estão além do desejado, os juros básicos são puxados para cima – encarecendo o crédito e pressionando o consumo e a inflação a caírem. Se o IPCA periga ficar abaixo da meta estabelecida, há espaço para a Selic ser puxada para baixo – o que, por sua vez, joga consumo e inflação para cima.
Em 2020, o BC tem a missão de entregar a inflação no fim do ano em 4,00% ao ano, com tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo. Em dezembro, empurrada para cima pela alta dos preços da carne, o IPCA registrava inflação em 12 meses de 4,31%. Na próxima sexta-feira (7) está programada pelo IBGE a divulgação do índice referente a janeiro.
LEIA A ÍNTEGRA DO COMUNICADO:
Em sua 228ª reunião, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 4,25% a.a.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
Dados de atividade econômica divulgados desde o último Copom indicam a continuidade do processo de recuperação gradual da economia brasileira;
No cenário externo, apesar do recente aumento de incerteza, o caráter acomodatício da política monetária nas principais economias ainda tem sido capaz de produzir ambiente relativamente favorável para economias emergentes;
O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente encontram-se em níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária;
As expectativas de inflação para 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,4%, 3,75% e 3,5%, respectivamente;
No cenário híbrido com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio constante a R$4,25/US$*, as projeções do Copom situam-se em torno de 3,5% para 2020 e 3,7% para 2021. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2020 em 4,25% a.a. e se eleva até 6,00% a.a. em 2021; e
No cenário com taxa de juros constante a 4,50% a.a. e taxa de câmbio constante a R$4,25/US$*, as projeções situam-se em torno de 3,5% para 2020 e 3,8% para 2021.
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, (i) o nível de ociosidade elevado pode continuar produzindo trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (ii) o atual grau de estímulo monetário, que atua com defasagens sobre a economia, pode elevar a trajetória da inflação acima do esperado no horizonte relevante para a política monetária. O risco (ii) se intensifica no caso de (iii) aumento da potência da política monetária decorrente das transformações na intermediação financeira e no mercado de crédito e capitais, (iv) deterioração do cenário externo para economias emergentes ou (v) eventual frustração em relação à continuidade das reformas e à perseverança nos ajustes necessários na economia brasileira.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros para 4,25% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e o balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2020 e, com peso crescente, o de 2021.
O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.
O Copom avalia que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira tem avançado, mas enfatiza que perseverar nesse processo é essencial para permitir a consolidação da queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes.
O Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela na condução da política monetária. Considerando os efeitos defasados do ciclo de afrouxamento iniciado em julho de 2019, o Comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária. O Comitê enfatiza que seus próximos passos continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação, com peso crescente para o ano-calendário de 2021.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (Presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fábio Kanczuk, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.