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BC corta Selic a 6,5% ao ano, nova mínima histórica, e surpreende ao indicar nova redução em maio

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central cortou a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira, levando-a à nova mínima histórica de 6,5 por cento ao ano, e indicou que fará mais uma redução da Selic em maio antes de encerrar o ciclo de afrouxamento monetário.

“Para a próxima reunião, o Comitê vê, neste momento, como apropriada uma flexibilização monetária moderada adicional. O Comitê julga que este estímulo adicional mitiga o risco de postergação da convergência da inflação rumo às metas”, afirmou o Comitê de Política Monetária do BC em comunicado. 

“Para reuniões além da próxima, salvo mudanças adicionais relevantes no cenário básico e no balanço de riscos para a inflação, o Comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária, visando avaliar os próximos passos, tendo em vista o horizonte relevante naquele momento”, acrescentou.

O BC também reduziu sua projeção de inflação pelo cenário de mercado a 3,8 por cento em 2018, ante 4,2 por cento na reunião de fevereiro. Para 2019, o cálculo foi a 4,1 por cento, contra 4,2 por cento antes.

“O Comitê julga que o cenário básico para a inflação evoluiu de forma mais benigna que o esperado nesse início de ano. O comportamento da inflação permanece favorável, com diversas medidas de inflação subjacente em níveis baixos, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária”, destacou o BC.

Em pesquisa Reuters, 36 de 41 economistas projetavam a redução de 0,25 ponto percentual na Selic agora, enquanto cinco esperavam manutenção.

Com o comunicado, o BC apontou que repetirá a dose com outro corte de 0,25 ponto percentual nos juros em maio, afirmou o economista-chefe da Mirae Asset, André Pimentel, avaliando que o BC optou pela clareza para que o mercado não entre “em um oba-oba, apostando em diversas outras quedas”. 

“Pouca gente tinha em mente que o BC ia manter as portas abertas para um corte e ele deixou as portas escancaradas. Na verdade, ele já deu de antemão um resultado para a próxima reunião, ao mesmo tempo em que ele fecha para a reunião seguinte”, disse.

CICLO ESTENDIDO

Até agora, já foram 12 reduções consecutivas na taxa básica de juros, somando 7,75 pontos percentuais. O prosseguimento do ciclo de cortes que começou em outubro de 2016 se dá em meio ao quadro de inflação persistentemente baixa.

No mês passado, o BC chegou a sinalizar claramente o fim dos cortes na Selic, mas indicou que poderia seguir em frente caso visse sinais de fraqueza na inflação, cenário que acabou se concretizando. Com o comunicado desta quarta-feira, o BC indicou que o ciclo se estende por ao menos mais uma reunião.

Em fevereiro, o IPCA atingiu o menor nível para o mês em 18 anos, somando em 12 meses alta de apenas 2,84 por cento, abaixo da meta oficial —de 4,5 por cento, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

O próprio presidente do BC, Ilan Goldfajn, afirmou no início deste mês que a inflação surpreendeu também a autoridade monetária, vindo abaixo do esperado. Foi a senha para que o mercado e analistas mudassem seus cenário sobre a Selic, precificando mais um corte agora, ao invés de manutenção.

Ainda que a expectativa seja de retomada um pouco mais forte da economia neste ano, o ambiente de juros baixos ainda não conseguiu acelerar firmemente a atividade em meio à alta ociosidade das empresas e elevado nível de desemprego.

Na pesquisa Focus mais recente, feita pelo BC junto a uma centena de economistas, a estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) recuou a 2,83 por cento em 2018. Ao mesmo tempo, a perspectiva para a inflação neste ano também caiu a 3,63 por cento.

No comunicado desta quarta-feira, o BC ponderou que a visão para a próxima reunião do Copom, que acontece em 16 de maio, pode mudar e levar ao fim da flexibilização monetária caso não veja mais risco de ser adiada a convergência da inflação.

“Para que ele não reduza em maio teria acontecer algo muito negativo, um pulo do câmbio ou leitura de inflação muito adversa. Essa é a condição para que não ocorra o corte”, opinou o economista-chefe do Santander, Mauricio Molan.

NOVO BALANÇO DE RISCOS

Em seu cenário básico para a inflação, o BC eliminou a menção a “possíveis efeitos secundários do choque favorável nos preços de alimentos e da inflação de bens industriais em níveis correntes baixos”.

Com isso, o risco de o IPCA vir abaixo do esperado passou a derivar, na visão do BC, apenas da possibilidade de propagação por mecanismos inerciais do nível baixo de inflação.

Como fatores que podem provocar eventual pressão inflacionária, por outro lado, o BC voltou a apontar os efeitos de frustração com as reformas econômicas e a reversão do cenário externo favorável para economias emergentes.

Por Marcela Ayres, com reportagem adicional de Bruno Federowski

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