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Copom manterá forward guidance, mas enfatizará condicionalidades, dizem analistas

SÃO PAULO (Reuters) - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central iniciou nesta terça-feira a reunião de dois dias que será concluída na quarta com o anúncio da decisão de juros, e analistas esperam que o colegiado adote uma postura de maior cautela para o curto prazo, enfatizando as condicionalidades do forward guidance.

O Copom deu início ao encontro de dois dias depois de o IBGE informar que a inflação ao consumidor de janeiro foi a maior para o mês em cinco anos.

A última reunião do Copom foi no fim de outubro, quando a inflação já vinha dando sinais de retorno. De agosto para setembro, o IPCA em 12 meses saltou de 2,44% para 3,14%, passou a 3,92% em outubro e bateu 4,31% em novembro, acima do centro da meta de inflação para 2020, de 4%. Alimentos e combustíveis têm pressionado o índice.

Em discursos recentes, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, destacou que a autarquia já não tem instrumentos capazes de agir sobre a inflação em 2020 e que tem como horizonte relevante para a política monetária nos anos de 2021 e 2022.

Em agosto, o BC adotou o forward guidance, a chamada prescrição futura ou orientação futura, na qual indica manutenção dos juros respeitadas certas condições. Para analistas do Citi, esse instrumento será mantido no comunicado de quarta, mas com mais ressalvas.

“A materialização dos riscos fiscais pode prejudicar o forward guidance. No todo, acreditamos que a comunicação do Copom provavelmente adotará uma postura de maior cautela no curto prazo e sinalizará uma política monetária mais dependente de dados e eventos no médio, longo prazo”, disse o banco em nota.

O Citi tem expectativa de que o BC promova mudanças em mais dois eixos de seu guidance de política monetária, esperando que o BC “reconheça que o espaço restante para flexibilização monetária adicional se esgotou no curto prazo e que uma possível flexibilização adicional ocorreria sob o gradualismo adicional, mas não no curto prazo”.

 

Na avaliação do Itaú Unibanco, uma provável estabilidade da Selic na quarta em 2% estaria em linha com as comunicações recentes do BC. Mas o banco lembra indicação de que mudanças de política que afetem a trajetória da dívida pública ou comprometam a âncora fiscal motivariam uma reavaliação, mesmo que o teto de gastos ainda seja nominalmente mantido.

“Esperamos a manutenção do forward guidance na sua forma atual, mas com uma indicação mais enfática de que as condicionalidades serão constantemente reavaliadas”, disse o Itaú em relatório específico sobre as expectativas para o Copom.

Em declarações recentes, Campos Neto tem destacado que o instrumento de forward guidance está muito ligado à parte fiscal. “Batemos muito nessa tecla do fiscal, achamos que é muito importante a continuação dessa mensagem de que o equilíbrio fiscal é muito relevante para condução da nossa política monetária”, afirmou em evento em novembro.

O UBS espera que o comunicado do BC ao fim da reunião do Copom seja o mesmo de outubro, exceto pelo ambiente “ligeiramente melhor” para mercados emergentes desde as recentes notícias sobre vacinas e o resultado das eleições norte-americanas.

Nesse contexto, “o BCB deve esperar até o primeiro trimestre de 2021 para decidir se mantém ou remove sua orientação futura”, já que o cenário para inflação e Selic continua a depender da evolução fiscal. O UBS calcula que o IPCA em 12 meses pode alcançar 6% até o segundo trimestre de 2021, retrocedendo apenas na segunda metade do ano, indo a 3,4%.

PROJEÇÕES DO COPOM

 

No comunicado de quarta, o colegiado do BC atualizará suas projeções para a inflação. O Citi projeta que haverá aumento de 90 pontos-base na expectativa para 2020, a 4,0% (o centro da meta).

O banco privado vê ainda que esse aumento pode ter repercussão nos prognósticos para 2021 e 2022. Para o ano que vem, o acréscimo ficaria entre 20 pontos-base e 30 pontos-base, com a estimativa ficando entre 3,3% e 3,4%. Já para 2022 o IPCA projetado poderá ter alta de até 10 pontos-base, para 3,4%.

“Apesar disso, como as estimativas de inflação ao consumidor de 2021 e 2022 devem se manter abaixo do centro da meta, ainda não há motivos para o Copom sinalizar alta iminente (nos juros), mas o espaço para novas flexibilizações provavelmente se esgotou no curto prazo”, disse o Citi.

A meta de inflação para 2021 tem centro em 3,75%. O objetivo para 2022 está em 3,50%. Para os dois anos há margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Nas planilhas do Itaú, o Copom elevará a projeção de inflação em seu cenário-base --que inclui taxa de câmbio seguindo paridade do poder de compra e taxa de juros de acordo com a pesquisa Focus-- para 4,3% em 2020 (de 3,1%).

Para 2021 e 2022, contudo, as previsões deverão ser mantidas em 3,1% e 3,3%,respectivamente.

Por José de Castro

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