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Ânimo global empurra dólar a mínima em quatro meses e moeda rompe suporte técnico

SÃO PAULO (Reuters) - Uma onda de vendas de dólares dominou o mercado de câmbio nesta terça-feira, com a moeda norte-americana rompendo um importante suporte técnico pela primeira vez em 16 meses e descendo ao menor patamar desde julho, sob pressão do amplo apetite por risco global amparado por expectativa de mais estímulos no mundo e de retomada econômica mais rápida.

O real liderou os ganhos entre as principais divisas globais, mas foi seguido de perto por vários rivais que se beneficiam de esperanças de recuperação econômica global. O índice do dólar ante uma cesta de moedas despencou a uma mínima em mais de dois anos e meio, enquanto as ações em Wall Street bateram novos recordes.

O dólar à vista caiu 2,22%, a 5,2282 reais na venda, menor patamar para um encerramento desde 31 de julho passado (5,2185 reais). A moeda oscilou em queda durante toda a jornada, variando entre 5,3304 reais (-0,30%) e 5,2174 reais (-2,42%).

Com a baixa desta terça, a cotação terminou abaixo de sua média móvel de 200 dias (5,3088 reais), um importante suporte técnico rompido de forma consistente durante a sessão --movimento que, segundo analistas, retroalimentou as vendas.

O dólar não fechava abaixo dessa média móvel desde 31 de julho de 2019.

“Rally Biden, juros e dólar derretem”, resumiu Paulo Gala, mestre e doutor em Economia e professor da disciplina na FGV-SP, referindo-se ao grande otimismo dos mercados de que a administração de Joe Biden, presidente eleito dos Estados Unidos, e sua equipe econômica abram as torneiras de dinheiro barato e irriguem a economia com ainda mais liquidez, que poderia migrar para mercados emergentes, como o Brasil.

Ao apresentar seu time econômico, Biden apelou ao Congresso que aprove um pacote de alívio ao coronavírus que está paralisado há meses e prometeu mais ações para reativar a economia depois que assumir o cargo no mês que vem. Biden disse que qualquer pacote aprovado pelo Congresso antes de ele assumir, em 20 de janeiro, seria “apenas o começo”.

A futura secretária do Tesouro, Janet Yellen (ex-chair do Federal Reserve), afirmou que medidas urgentes são necessárias para evitar que o tombo da economia se retroalimente.

Os mercados em todo o mundo vêm num rali de risco desde a eleição norte-americana, ocorrida em 3 de novembro, confiantes na eleição de Biden e no aumento de gastos. Desde essa data, o dólar no Brasil acumula um tombo de 9,25%.

“Fluxo relevante para emergentes, principalmente no mês de novembro. Até 27 de novembro estrangeiros entraram com mais de 32 bilhões de reais na bolsa brasileira, número que pode se tornar muito maior se o país endereçar o fiscal de forma responsável”, comentou no Twitter Leonardo Monoli, gestor do Opportunity Total.

O Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês) calcula que o quarto trimestre de 2020 será o de maior influxo a mercados emergentes desde os primeiros três meses de 2013.

Não bastasse o ambiente externo já propício ao risco, no meio da tarde o dólar aprofundou a queda ante o real após notícia de que o presidente do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), vai incluir a proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021 na pauta da sessão conjunta no dia 16 de dezembro, o que sinaliza algum direcionamento para o Orçamento de 2021.

Os juros futuros desabaram cerca de 20 pontos-base, enquanto o Ibovespa saltava 2,2% a caminho do fechamento, acima de 111 mil pontos.

O risco de aumento de despesas no Brasil em 2021 depois do salto no déficit primário neste ano por causa da pandemia representa uma dor de cabeça para os mercados. A deterioração das contas públicas, segundo analistas, ainda é o principal motivo para a disparada de 30,28% do dólar ante o real em 2020.

Mas o Bank of America disse estar “cautelosamente otimista” com relação ao real, citando justamente expectativa de maior clareza sobre o cenário fiscal no primeiro trimestre de 2021, além de valuations “atrativos”.

“Em nosso cenário-base, o teto de gastos permanecerá em vigor ao longo de 2021 e a agenda de reformas avançará, o que seria positivo para o real”, disseram em relatório Gabriel Tenorio e Claudio Irigoyen.

Os economistas do banco projetam que o dólar fechará 2020 em 5,30 reais e descerá a 5,10 reais ao fim de março, nível no qual terminará o segundo e o terceiro trimestres de 2021.

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