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Banco Central reduz Selic a 2,25% e abre porta para eventual corte à frente

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central cortou nesta quarta-feira a Selic em 0,75 ponto, num passo alinhado com expectativa majoritária do mercado e que levou os juros básicos à nova mínima histórica de 2,25% ao ano, ao mesmo tempo em que deixou aberta a porta para nova redução “residual” à frente, condicionada à avaliação do cenário.

 

Segundo o BC, os próximos passos vão depender de novas informações sobre o efeito da pandemia de coronavírus, além de uma diminuição das incertezas com relação à trajetória das contas públicas no Brasil.

“Para as próximas reuniões, o Comitê (de Política Monetária) vê como apropriado avaliar os impactos da pandemia e do conjunto de medidas de incentivo ao crédito e recomposição de renda, e antevê que um eventual ajuste futuro no atual grau de estímulo monetário será residual”, disse o BC, em seu comunicado.

“No entanto, o Copom segue atento a revisões do cenário econômico e de expectativas de inflação para o horizonte relevante de política monetária”, acrescentou.

A comunicação indica uma inflexão em relação à postura adotada em maio, quando o BC também reduziu a Selic em 0,75 ponto, mas antecipando que o ajuste neste mês deveria ser seu último.

Para o analista da Rio Bravo Luis Bento, o comunicado acabou mostrando que, em matéria de política monetária, “não faz muito sentido se prender a uma decisão de antemão”.

“Temos visto decréscimo nas expectativas de inflação para 2021, o que apareceu nos modelos do BC, então acreditamos que o mais provável é que a gente veja revisão nas expectativas para a Selic de 2021, com o mercado migrando para cenários de um aumento só ou mesmo de manutenção do juro no ano que vem”, disse ele, prevendo Selic em 2% até o fim de 2021.

A mudança de sinalização do BC vem em meio aos profundos impactos do surto de Covid-19 na economia brasileira. Indicadores mais recentes do varejo em abril corroboram a leitura do avassalador baque sofrido pela atividade, numa mostra de que o Produto Interno Bruto (PIB) deve sofrer um mergulho profundo no segundo trimestre.

A respeito do PIB, a autoridade monetária ressaltou que o resultado do primeiro trimestre confirmou a maior queda observada desde 2015.

“Indicadores recentes sugerem que a contração da atividade econômica no segundo trimestre será ainda maior. Prospectivamente, a incerteza permanece acima da usual sobre o ritmo de recuperação da economia ao longo do segundo semestre deste ano”, completou.

Segundo o BC, a conjuntura segue prescrevendo estímulo monetário “extraordinariamente elevado”, mas o espaço que ainda resta para tanto é “incerto e deve ser pequeno”.

“O Comitê avalia que a trajetória fiscal ao longo do próximo ano, assim como a percepção sobre sua sustentabilidade, são decisivas para determinar o prolongamento do estímulo”, pontuou.

Na visão do economista sênior do Banco MUFG Brasil, Carlos Pedroso, é justamente o aspecto fiscal que deve acabar barrando o BC de reduzir a Selic.

“Os dados da pandemia continuam a piorar, com certeza as medidas emergenciais serão estendidas. O impacto fiscal dessas ações vai se ampliar. Não haverá melhora na preocupação do mercado sobre isso. Vemos Selic estável em 2,25% até o fim do ano”, afirmou.

Em pesquisa Reuters, 32 de 38 economistas consultados previram um corte desta magnitude nesta quarta-feira, ao passo que seis estimaram que a redução seria menor, de 0,5 ponto. Esta foi a oitava vez consecutiva que o BC baixou os juros, num processo de afrouxamento monetário iniciado em agosto do ano passado.

Membros da diretoria colegiada enfatizaram em falas públicas recentes que o BC prioriza a atuação via política monetária na crise —e não via compra de títulos, conforme autorizado pelo Congresso.

A próxima reunião do Copom acontece em 4 e 5 de agosto.

INFLAÇÃO

Sobre a inflação, o BC ponderou que diversos programas de estímulo ao crédito e de recomposição de renda que foram implementados no combate à pandemia podem fazer com que a redução da demanda agregada seja menor do que a estimada, adicionando uma assimetria ao balanço de riscos.

Esse novo fator foi listado pelo BC como uma variável que pode pressionar a inflação para um nível acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária. Hoje, o BC vê o IPCA abaixo da meta tanto neste ano quanto no ano que vem.

No balanço do BC, portanto, esse risco passou a acompanhar a já mencionada preocupação com políticas que piorem sobremaneira a trajetória das contas públicas e frustração com continuidade das reformas, fatores que podem levar ao aumento dos prêmios de risco.

Pelas contas da autoridade monetária no cenário híbrido —que considera Selic da pesquisa Focus e dólar constante a 4,95 reais—, o IPCA fechará este ano em 2,0% e 2021 em 3,2%. Em maio, o BC enxergava esses patamares em 2,4% e 3,4%, respectivamente, com o dólar a 5,55 reais.

Nos dois casos, as estimativas passaram a mostrar mais folga em relação à meta de inflação, que em 2020 é de 4,0% e em 2021 de 3,75%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.

Sobre o fator que atua no sentido contrário, de uma inflação abaixo da esperada, o BC voltou a citar o nível de ociosidade da economia.

A decisão desta quarta-feira do BC não contou com o voto do diretor de Política Econômica, Fabio Kanczuk, que está nos Estados Unidos em virtude de problema de saúde de um membro de sua família.

Recentemente, Kanczuk afirmou que os membros do Copom têm apetites diferentes para experimentar um limite para os juros básicos e que, pessoalmente, ele era a favor de testar essa fronteira com cuidado.

Com reportagem adicional de José de Castro

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