Topo

BC e Economia defendem que PIB privado já mudou nome do jogo, mas retomada na ponta ainda levará tempo

BRASÍLIA (Reuters) - O Ministério da Economia e o Banco Central têm martelado em uníssono que, apesar de o crescimento econômico ainda ser lento, está sendo guiado pela primeira vez pelo setor privado enquanto o PIB do governo cai, o que engatilhará uma atividade mais robusta à frente. 

Homem passa em frente à sede do Banco Central em Brasília 29/10/2019 REUTERS/Adriano Machado

Para economistas ouvidos pela Reuters, a direção é essa e está correta. Mas, para a mudança se refletir em mais emprego e renda na ponta, os brasileiros ainda vão ter que esperar.

Dados compilados pela Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia mostram que o PIB privado subiu 2,22% no trimestre encerrado em junho, na comparação interanual, enquanto o PIB do governo exibiu um recuo de 1,56%.

Cinco anos antes, no trimestre encerrado em junho de 2014, o PIB privado caía 0,56% ao passo que o público exibia uma expansão de 3,49%.

Desde os três meses encerrados em dezembro passado, esse desenho com privado para cima e público para baixo já vinha sendo delineado. A diferença é que, de lá para cá, o mergulho do PIB do governo se acentuou.

“Na hora que você reduz a taxa de juros, quem responde é o setor privado, o investimento, o consumo”, afirmou o coordenador-geral de Projeções Econômicas da SPE, Fausto Vieira.

“Você tira o gasto do governo, tira o governo da jogada, o risco de endividamento do governo cai, a taxa de juros longa cai e aí o setor privado entra. É isso que está acontecendo”, acrescentou.

Em evento no Rio de Janeiro na sexta-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, estimou que PIB privado subirá 3% no ano que vem, enquanto o público seguirá travado.

O percentual é visto como factível para a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, quando considerada não a média, mas o desempenho anualizado no terceiro ou quarto trimestre de 2020.

“A sociedade vai sentir isso mais para o ano que vem porque a queda do desemprego, o aumento da renda são mais lentos. Primeiro você vê um aumento de consumo, de investimento. O emprego e a renda vão vir depois porque a ociosidade no mercado de trabalho está muito elevada”, opinou.

 

“Como a economia era há pouco tempo muito puxada pelo público, não só na parte direta, mas também através de subsídios ao setor privado, com o BNDES, essa transição onde o setor público já aparece e o privado precisa ocupar espaço é lenta, demorada. Mas eu acho que já está acontecendo”, complementou.

Para o economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo, o gasto público tem diminuído sistematicamente desde 2016, mas só agora o Brasil tem visto o setor privado começar a tomar o lugar outrora ocupado pelo Estado. Ele estima que o PIB privado atualmente cresce 1,5% ao ano, enquanto o público cai 1%.

“Esse é um processo demorado, mas que tem que acontecer mesmo. Vai ser super positivo, o setor privado é muito mais eficiente que o setor público, você vai ter uma alocação de recursos muito mais eficiente, aumentar o potencial de crescimento da economia brasileira”, disse.

Para tanto, ele reforçou ser necessário que as reformas econômicas prossigam. Caso isso ocorra, Camargo disse que o Brasil poderá até mesmo se consolidar como um destino mais atraente para investimentos num momento em que vizinhos na América Latina passam por turbulências políticas, sociais e econômicas.

BC EM SINTONIA

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, também tem batido na tecla do setor privado como indutor do crescimento.

Em falas recentes, ele pontuou que mais importante que a queda da Selic —atualmente em 5% e a caminho de cair mais meio ponto neste ano— é a redução da taxa de juros longa. Mais baixa, ela sinaliza a sustentabilidade de financiamento privado a projetos de longo prazo.

A maior participação do setor privado na economia também entrou na comunicação oficial do Comitê de Política Monetária (Copom). Na última ata do Copom, o BC destacou que a menor presença do Estado na atividade e a falta de comparativos históricos sobre as reações observadas num ambiente de Selic tão baixa aumentam as incertezas em relação à transmissão da política monetária.

A mensagem denota cautela com o quanto a taxa básica de juros ainda pode cair num ambiente de crédito livre em elevação enquanto o crédito direcionado patina, quadro que pressupõe uma potência maior da política monetária.

Entretanto, o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima, ponderou que, para a expansão do crédito livre efetivamente se firmar, é necessário que haja melhora nos indicadores de emprego, o que ele só vê acontecendo, no melhor dos cenários, a partir do segundo semestre do ano que vem.

Tags:

FENECON - Federação Nacional dos Economistas  
Rua Marechal Deodoro, nº 503, sala 505 - Curitiba - PR  |  Cep : 80.020-320
Telefone: (41) 3014 6031 e (41) 3019- 5539 | atendimento: de 13 às 18 horas | trevisan07@gmail.com e sindecon.pr@sindecon-pr.com.br