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Após susto com barragem de água, trabalhos em Brumadinho ainda têm longo caminho pela frente

BRUMADINHO, Minas Gerais (Reuters) - Equipes de resgate continuaram na tarde deste domingo os trabalhos de busca por centenas de desaparecidos em meio a um mar de lama provocado pelo rompimento de uma barragem de mineração da Vale em Brumadinho (MG) na sexta-feira, depois que uma barragem de água que apresentava risco de rompimento foi considerada segura pelas autoridades.

 

De acordo com o tenente-coronel Flávio Godinho, porta-voz da Defesa Civil, equipamentos de monitoramento apontaram que a barragem 6, de água, também da Vale, retornou para o nível de alerta 1, que não representava mais risco para moradores e para os bombeiros que trabalham na região.

Um alerta de possível rompimento da barragem soou às 5h30 da manhã em Brumadinho, levando a uma operação para a retirada de milhares de pessoas de suas casas na mesma região atingida pelo rompimento de uma barragem de rejeitos que deixou ao menos 37 mortos e 287 desaparecidos.

Devido ao alerta, os trabalhos de busca de desaparecidos foram suspensos, tanto devido aos riscos para as equipes como para concentrar a atuação na retirada de moradores nas áreas de risco.

“Retornamos para o risco 1, ou seja, a barragem nesse exato momento não oferece risco para as pessoas que moram e nem para os bombeiros, que voltaram para o trabalho de resgate”, disse Godinho a repórteres em Brumadinho.

“A medição é feita a todo momento, houve drenagem de água e a medição da barragem mostrou que nesse momento ela não traz risco”, acrescentou.

Inicialmente o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais estimou que 24 mil pessoas teriam que sair de casa devido ao alerta sobre a barreira de água, mas o número depois foi revisado para 3 mil pessoas, antes de o alerta ter sido suspenso pelas autoridades.

A Defesa Civil orientou as pessoas que saíram de casa devido ao alerta a retornarem. “As pessoas devem retornar para as suas residências, as vias de acesso estão liberadas para que isso aconteça”, disse o porta-voz.

Segundo a Defesa Civil, 192 pessoas foram resgatadas com vida após a tragédia. 

Em São Paulo, onde o presidente Jair Bolsonaro se prepara para uma cirurgia na segunda-feira, o porta-voz da Presidência, general Otávio Santana do Rêgo Barros, disse que o governo estuda medidas para que desastres como o de Brumadinho não voltem a ocorrer.

“Uma série de ações sob o ponto de vista jurídico estão sendo conformadas pelo gabinete de crise, que serão apresentadas ao presidente da República”, disse o porta-voz.

“Ele tem demonstrado preocupação no sentido de que este, efetivamente, seja o último grande desastre ambiental que nosso país passe, que tanto preocupa pelo fato do próprio desastre ambiental e que tanto preocupa pelo ponto de vista de imagem do país lá fora.”

R$11 BI BLOQUEADOS

O Ministério Público de Minas Gerais informou neste domingo que a Justiça mineira bloqueou mais 5 bilhões de reais da Vale para garantir a reparação de danos causados às vítimas do rompimento, ampliando para 11 bilhões de reais o total de recursos da mineradora bloqueados pela Justiça devido ao incidente.

Segundo o MPMG, que solicitou o novo bloqueio à Justiça, o dinheiro bloqueado nesta ação se soma a outros 5 bilhões de reais bloqueados para a reparação de danos ambientais provocados pelo rompimento da barragem. Além disso, a Justiça estadual de Minas Gerais também acatou pedido do governo do Estado para bloquear outro 1 bilhão de reais da mineradora.

Procurada, a Vale informou que assim que foi intimada da decisão de bloqueio de 1 bilhão de reais apresentou petição informando que fará o depósito do valor, sem necessidade de bloqueio judicial, e que está “avaliando as providências cabíveis” quanto aos dois bloqueios de 5 bilhões de reais cada.

“A Vale entende que tais bloqueios não são necessários, uma vez que não se eximirá de suas obrigações de atendimento emergencial da população e reparações devidas”, disse a empresa.

Em Brumadinho, o diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, prometeu neste domingo que a mineradora vai criar um sistema de segurança nas barragens bastante superior ao atual para evitar uma repetição de rompimentos como o ocorrido na sexta-feira. 

INDIGNAÇÃO

O trabalho de retirada de moradores desviou a atenção da busca por centenas de pessoas desaparecidas devido à avalanche de lama de rejeitos que atingiu comunidades e área administrativa da própria empresa depois do rompimento.

Imagens de TV mostraram barreiras sendo feitas na cidade, desviando pessoas de determinadas regiões e impedindo a passagem para certas áreas.

Famílias e amigos de luto por vítimas da tragédia foram forçados a deixar a cidade.

Renato Maia, um vendedor de 44 anos cuja filha do melhor amigo continua desaparecida, fugiu de casa em pânico no domingo de manhã. Por volta de meio-dia, ele e sua esposa esperavam no entorno da cidade que a polícia suspendesse um bloqueio, indignado com a situação.

“Estamos cansados da Vale... e isso está realmente piorando a situação”, disse. “Foi uma grande tragédia e agora não sabemos o que pode acontecer.”

O rompimento em Brumadinho é o segundo desastre do tipo evolvendo a Vale em pouco mais de três anos. O número de mortos já supera as 19 vítimas fatais do rompimento em 2015 de uma barragem em Mariana, também em Minas Gerais, da Samarco, uma joint venture da Vale com a BHP.

O rompimento da Samarco despejou cinco vezes mais rejeitos de mineração, porém em uma região mais remota. A tragédia de Mariana, no entanto, atingiu o rio Doce, o que faz dela o maior desastre ambiental da história do país.

O governo ordenou que a Vale suspenda as operações no complexo de mineração de Córrego do Feijão, local do rompimento da barragem na sexta-feira.

O diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, pediu desculpas sem assumir responsabilidade em uma entrevista na televisão no sábado, e prometeu que a empresa fará a sua parte. 

A causa do rompimento permanecia incerta. Inspeções recentes feitas por uma empresa de auditora alemã, a TUV SUD, e pela própria Vale não indicaram nenhum problema com a barragem, segundo as empresas.

Schvartsman disse que todas as barragens de rejeitos da Vale foram verificadas após o desastre de 2015 em Mariana, e que revisões periódicas são realizadas.

O procurador da República José Adércio Sampaio disse à Reuters no sábado que o novo colapso de barragem de rejeitos de mineração pode mudar completamente o rumo das negociações sobre uma ação de 155 bilhões de reais movida contra a Samarco e suas donas (Vale e BHP) no âmbito da tragédia ocorrida há três anos.

Reportagem adicional de Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro, e Tatiana Bautzer, em São Paulo; Edição de Alexandre Caverni

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